domingo, 29 de novembro de 2009

"Caipora bambuiorum"... um grande macaco baiano extinto.

Castor Cartelle, do Instituto de Geociencias, Universidade Federal de Minas Gerais, e Walter Carl Hartwig, do Departamento de Antropologia, da George Washington University, nos Estados Unidos, publicaram o artigo:
.
CARTELLE, Castor; HARTWIG, Walter Carl. “A new extinct primate among the Pleistocene megafauna of Bahia, Brazil.” Washington (Estados Unidos da América do Norte): National Academy of Sciences, Proceedings of the National Academy of Sciences (r), v.93, p. 6405-6409, 1996.
.
Nele relataram a descoberta, na Toca da Boa Vista, no Município de Campo Formoso, de um esqueleto aproximadamente completo de um robusto macaco extinto. Ele mostra similaridades com outros primatas como o Bugio (Alouatta belzebul), o Macaco-Aranha (Ateles paniscus), o Muriqui(Brachyteles arachnoides) e o Macaco Barrigudo (Lagothrix lagotricha).

Distinguiu-se o achado por sua robustez, com mais de 20 quilos de peso, e o desenho da sua caixa craniana. Fica indicado que os maiores macacos destes nossos terrenos, ainda que arbóreos, chegavam a ter o dobro do tamanho dos atuais.
Denomina-se esta espécie extinta de macaco, que foi descoberta na Bahia, Caipora bambuiorum.
Cranio do Caipora bambuiorum
.
.
Comparação de elementos do Caipora bambuiorum com outros macacaos atuais brasileiros.
(A) Humeros esquerdos dos, da esquerda para a direita, Macaco-Aranha, Caipora bambuiorum, Macaco Barrigudo e Bugio. (B) Ulnae direita e esquerda do Caipora bambuiorum. (C)Vista anterior do fêmur direito do(esquerda para a direita) Macaco-Aranha, Caipora bambuiorum, Macaco Barrigudo e Bugio. (D) Pé esquerdo reconstruído do Caipora bambuiorum.
.
Para baixar o artigo original de Cartelle e Hartwig:
Artigo Caipora bambuiorum
.
Sobre o Caipora bambuiorum foi ainda publicada a matéria "Guardiãs do tempo - Cavernas revelam como era o clima no hemisfério sul há 100 mil anos", redigida por Carlos Fioravanti, na edição impressa número 111, de maio de 2005, da Revista Pesquisa, da Fapesp, divulgada no site:
http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=33&bd=1&pg=1&lg=

Resumiu, neste recorte:
"Floresta e sertão - O deslocamento da umidade das proximidades do equador fez chover mais também no semi-árido nordestino. "No Nordeste as mudanças climáticas e ambientais foram radicais", diz Augusto Auler, geólogo do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), co-autor de um artigo sobre o antigo clima do Nordeste, publicado em dezembro na revista Nature, e primeiro autor de outro, divulgado também no final do ano na Journal of Quaternary Science. Esses trabalhos mostram que a chamada Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), uma região da atmosfera carregada de umidade que se desloca no sentido norte-sul sobre o oceano, próximo ao equador, já esteve mais para o sul - mais próxima do Nordeste brasileiro - e trouxe a água que nutriu uma floresta tropical. Depois, quando a ZCIT se continha a norte, sem se aproximar tanto do continente, voltava a imperar uma paisagem semelhante à atual. Estudos de outros grupos já haviam levantado os resquícios de antigas matas úmidas no Nordeste, mas faltava mostrar exatamente em que épocas do passado o sertão havia virado floresta.
A última vez que houve por ali uma mata alta, verde e viçosa, tão vasta a ponto de provavelmente unir a Amazônia à Mata Atlântica, foi há cerca de 15 mil anos. Mas antes no interior do Nordeste já haviam reinado a seca e a vegetação esparsa, semelhante à atual. A floresta, alimentada pelos ventos úmidos, vicejou por breves períodos de poucos milhares de anos - há cerca de 39 mil, 48 mil e 60 mil anos, para citar apenas os intervalos mais próximos - que correspondem às fases de chuvas mais intensas e constantes. O período mais longo em que uma floresta semidecídua - que perde as folhas por alguns meses do ano - povoou a terra hoje seca do Nordeste durou quase 5 mil anos, de 68 mil a 63 mil atrás, de acordo com os estudos realizados por Auler em conjunto com pesquisadores das universidades de Minnesota, nos Estados Unidos, de Bristol, na Inglaterra, e de Taiwan, na China. No Brasil, contou com a colaboração da bióloga Patrícia Cristalli, da Universidade de Mogi das Cruzes e da USP.
Essa equipe percorreu o interior e os arredores de duas cavernas do interior da Bahia, a Toca da Barriguda e a Toca da Boa Vista, a maior do hemisfério Sul, com 108 quilômetros de extensão. Auler e sua equipe colheram e analisaram as estalagmites das cavernas, como o grupo da USP, mas foram além e estudaram também fósseis de folhas encontrados em depósitos de calcita - mineral composto de carbonato de cálcio - acumulados a céu aberto. Foi possível assim reconstituir, além das formações vegetais de até 210 mil anos atrás, os animais que viviam por ali. Não faltavam exemplares de grande porte, como preguiças e tatus gigantes. Havia também um macaco, o Caipora bambuiorum, com cerca de 40 quilogramas e o dobro do tamanho do maior macaco brasileiro, o muriqui. A equipe da UFMG que o descreveu em um artigo publicado em 1996 no Proceedings of the National Academy of Science sabia que se tratava de um animal arbóreo, mas não tinha idéia de quando poderia ter vivido. Agora se pode afirmar que o Caipora bambuiorum viveu provavelmente há 15 mil anos, em meio à floresta que mais tarde cederia espaço ao corredor seco de quase 3 mil quilômetros de extensão que separa a Floresta Amazônica da Mata Atlântica."
.