sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Personagens - Gélbio Melo Fagundes Rocha


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Texto extraído da "Moção de Pesar pelo falecimento do Geólogo Gélbio Melo Fagundes Rocha."
por Waldenor Pereira - Deputado Estadual

"Gélbio Melo Fagundes Rocha nasceu em Vitória da Conquista, na Bahia, em 7 de julho de 1952, sexto filho do casal Alcebíades Macedo Rocha e Dona Venuzina Fagundes Melo, casado há cerca de 30 anos com a Dra. Nancy Gama e Silva Rocha, Odontóloga da SESAB, tendo mais sete irmãos: Zirnaldo, Valter Rubens , Roberval (Vavá), Gilvan, Silvandro, Queila e Jean.

Formado em Geologia pelo Instituto de Geociências da UFBA, em 1978, Gelbio fez, logo a seguir, Mestrado em Geologia Econômica, e mais tarde concluiu matérias do Doutorado na UFBA. Trabalhou na Secretaria de Minas e Energia da Bahia e, posteriormente, na Superintendência de Geologia e Mineração, tendo realizados cursos no Exterior, através de parceria da SGM/Governo Canadense. No momento desenvolvia trabalhos como consultor na área de Geologia Ambiental em parceria com o Geólogo gaucho André Fornari.

Gélbio foi um ativista político-cultural de esquerda desde o curso secundário, em Conquista, no final dos anos 60. Em 1972, foi obrigado, por ameaça de expulsão do Colégio Normal Conquistense – vivíamos na Ditadura Militar, com toda sua intolerância para silênciar as vozes discordantes ao Regime de opressão - a se transferir para Salvador onde conclui o científico no tradicional Colégio da Bahia, o Central, maior espaço de formação educacional e política da juventude da época.

Foi um dos fundadores do CEUSC – Centro Estudantil e Cultural de Vitória da Conquista e da REC-Residência dos Estudantes de Vitória da Conquista, em Salvador, assim como do Jornalzinho o “CÁLICE”, que se consolidaram como espaços de representação do interior da Bahia, trincheiras de resistência e educação política contra o Regime Militar. Gélbio e demais lideranças da época acreditavam que para derrubar a Ditadura era preciso resistir e avançar, mesmo que o preço fosse alto.

Em 1973, período dos mais repressivos da Ditadura Militar, Gélbio ingressa no curso de Geologia da UFBA, juntamente com outros jovens de Conquista, entre eles Ubirajara Mota e Clóvis Ferraz. Sua participação na luta contra o governo dos militares se dá de imediato. Participa da Diretoria do Diretório Acadêmico, e é escolhido Representante dos Estudantes de Geologia no Colegiado do Curso junto a Reitoria. Articula, com outros colegas, o que viria a ser a maior Greve do Movimento Estudantil do Brasil, desde o final dos anos 60 quando, em 1975, o Curso de Geologia pára por melhores condições de ensino. Vieram outros cursos da UFBA e uma onda de paralisações se espalha pelo país. “Abaixa a Ditadura, Abaixo a Repressão, Pelas Liberdades Democrátricas”. O brado dos estudantes baianos ecoa de norte a sul. Ainda como estudante de Geologia, Gelbio participa da Campanha pela Anistia, Ampla, Geral e Irrestrita.

Líder nato, Gélbio Rocha simboliza para todos que o conheceram a luta dos estudantes, dos setores populares e da classe média esclarecida de Vitória da Conquista e da Bahia, na construção de um país mais igual, liberto e solidário. Gélbio será sempre um GUEREIRO DO BEM nas suas muitas vidas terrena ou espacial, onde a palavra e o gesto simples terão lugar para mostrar que será sempre possível um mundo mais singelo e essencial. Sua partida prematura abre um vazio que se expressa na face inconsolada dos seus amigos e familiares ou na poesia de Jean Cláudio, seu irmão:

"Deus, ou quem quer que seja, / Me parece, /Que está testando
Quantas lágrimas ainda restam em meus olhos. /Me parece,
Que está testando quantos corações restam em meu peito. / Me parece,
Que está testando quantas vidas tenho para jogar pela janela.
Deus, ou quem quer que seja, / Ainda acha que sou forte para retribuir sem os entes que foram. / Ele, ou quem quer que seja, / Não sabe que meus olhos são rasos
Que meu peito só tem um coração / E que minha vida não sabe seguir só.
Ele, ou quem quer que seja, / Deixou de me avisar que minha falha é sentir em demasia / De me cortar quando alguém se corta /De sangrar pela ferida do irmão
De afogar na seca do sertão vizinho. / Ele, ou quem quer que seja, /
Me deu a vida e a poesia. /E aí? / O que faço com estas limitações?
A água dos meus olhos é de poço raso. / As palavras...
Não sei até onde seguirão e quantas pingarão / no chão que ando e folheio.
Ele, ou quem quer que seja, / Não sabe do poço raso que tento manter molhando eternamente. / E por isso, me entregam mortos / e um monte de palavras que não enterram. - A poesia não enterra / A poesia apenas joga na superfície as faces -
Sou poeta! E aí? / Não sei seguir só / Não sei / Não / Não sei ser outra coisa
Adeus amigo
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Gélbio Melo Fagundes Rocha faleceu a 2 de novembro de 2006, deixando viúva Nancy e filho Romulo Rocha.

Extraído da "Moção de Pesar pelo falecimento do Geólogo Gélbio Melo Fagundes Rocha."
por Waldenor Pereira - Deputado Estadual
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