quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Réplicas... Falsificações... De olhos abertos...

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A utilização de réplicas é um recurso válido de divulgação do Conhecimento. Da réplica, instrumento válido de disseminação do Conhecimento, à falsificação, é apenas uma mera questão de modificação do destino de cada exemplar e das suas informações de origem. Assim, réplicas podem chegar muito próximas, em muitas situações, de falsificações simples, muitas vezes objetivando ludibriar não só leigos como cientistas e instituições. Na Geologia e na Paleontologia não deixam de acontecer, especialmente quando alguns buscam estender descobertas, impor visões, justificar investimentos ou vender material obtendo lucro financeiro.
Um pseudo-fóssil pode ser feito por diversão. Observe-se o exemplo abaixo:
Pseudo-fóssil produzido por diversão.

Este pode ser reconhecido como um belo pseudo-fóssil artesanal. Partiu de uma mistura de cimento com areia e pigmento até se chegar à cor desejada. Foi colocado um inseto atual sobre um papelão e, sobre esse, foi derramada a mistura. Após a secagem da mistura, o pequeno bloco foi girado e o inseto retirado. Para se criar um efeito mais realista, poderia ter sido, após este momento, aplicada tinta adeqüada, simulando diferenças mais claras entre a "rocha" e o nosso "fóssil".
Podem ser realizadas "réplicas" simples, para escolas, moldando "fósseis" a partir de "biscuit". Usa-se, portanto, meramente cola branca, amido de milho, vaselina líquida, caldo de limão e creme hidratante não gorduroso que, unidos e trabalhados, resultam em massa apropriada para modelagem. Pode-se, com isso, produzir material, especialmente em e para aulas para crianças.
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Uma espécie de "forçação" de situação aparece quando alguém possui um fóssil verdadeiro e resolve "incrementá-lo". Na imagem abaixo, um fóssil que aparece à esquerda, quando limpo, revela que a maior parte do que se via era uma pintura em tinta acrílica. À direita, após limpo, revelou-se que, abaixo, existia um fóssil real.
Fóssil real de peixe que foi "realçado" artesanalmente, "falsificando o verdadeiro".

Abaixo "ovos de dinossauros" vendidos costumeiramente na internet. Como seria de se esperar, é praticamente impossível quem comprar estar levando um produto que seha um fóssil real. estes "ovos" foram fabricados a partir de cimento, resina, tinta e pigmentos diversos.
Falsos fósseis de ovos de dinossauros.

Como estes há um quantidade impressionante de "ovos de dinossauros" à venda. Sua fonte? Em termos mundiais, no mercado "profissional" do que seriam réplicas, e acabaram se tornando rotinadas falsificações, o Marrocos e a China se tornaram as principais fontes. As vias predominantes de falsificação são aquelas resultantes de:
1) Uso de materiais reais, como ossos, dentes, embebidos em colas, resina ou qualquer material que possa ajudar a criar o pseudo-fóssil.
2) Fusão de fóssil genuíno, por colagem, com material artifical geral, que é colado, pintado, envelhecido, de maneira a simular continuidade com o fóssil genuíno.
3) Escultura simples e pintura sobre qualquer material, buscando o máximo de fidelidade possível, inclusive com elementos que indiquem problemas que fósseis originais têm, como quebras, falhas etc...
4) Uso de ossos e dentes atuais buscando imitar referências paleontológicas, após adeqüações e emendas diversas.
5)União de fósseis genuínos ou misturados a falsos, de origens diversas, em uma única situação, visando simular assembléias.
6) União de fósseis genuínos, buscando fingir novos tipos, de maneira a impressionar estudiosos. esta é a modalidade mais difundida e que rende maiores lucros atualmente. Por exemplo, ovos de dinossauros são montados a partir de exemplares diversos, sendo, muitas vezes, denunciados pelas diferenças gritantes de cores.
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Abaixo, uma coleção de réplicas de trilobitas, feitas em resina e pintadas. Para reforçar o efeito estético, foram incrustradas em material rochoso real.
Réplicas do trilobita Dicranurus monstrosus
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Na figura abaixo, um fóssil de trilobita feito completamente de resina, com os pequenos orifícios bem visíveis.
Falsificação de trilobita do gênero Drotops.
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A falsificação é revelada pelos buraquinhos esféricos na matriz ou no aparente fóssil do esqueleto de um trilobita. Esses pequenos buracos, geralmente com menos de 0,5 mm de diâmetro, são resultantes de bolhas de ar formadas quando do processo de trabalhamento manual do molde por resina.
Buraquinhos revelam falsificação.
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Falsificações assim podem ser encaixadas com maior ou menor perícia em material rochoso original, para tornar aparente ser algo verídico.
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Outro ponto de preocupação é a de profundas diferenças de cor entre a rocha matrix em que está o fóssil e esse. Deve-se atentar para buscar a coloração original da rocha matrix e observar se a cor do aparente fóssil não é mera tentativa de se esconder os buraquinhos anteriomente descritos. Marcas de trabalhamento que sugeririam aparente limpeza do fóssil podem ter sido utilizadas para camuflar emendas. Deve-se, portanto, buscar evidências de que houve adeqüação e colagem. Essa é mais facilmente revelada quando a peça é serrada, como no exemplo abaixo, em que temos um pseudo-fóssil de um Dicranurus monstrosus. O material em forma de fóssil foi produzido por moldagem e depois implantado sobre um fragmento de rocha verdadeiro. A parte inferior da colagem não resiste à revelação de ser um material falsificado.
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Falsificação de Dicranurus monstrosus

Falsificações de fósseis nem precisam ser tão elaboradas, quando o material permanecerá afastado do examinador, por exemplo, já emolduradas. Observe-se estes exemplares. São muito bonitos, entretanto, não passam de meras pinturas.
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Abaixo, para comparação, um fóssil real de um camarão:


A visão do fóssil real abaixo indica um elemento que ainda não foi eficientemente falsificado. São as pequenas rachaduras ou "crack lines" que atravessam o corpo rochoso e se estendem pelo fóssil:
Paralejurus verdadeiro, com linhas de rachadura que se estendem pela rocha e pelo fóssil.
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Um ponto de difícil falsificação, que pode ser observado nos trilobitas, é a trama de pequenas lentes que constituem os seus olhos. Abaixo, um exemplar verdadeiro, mostrando sua qualidade, um ponto que, geralmente, falsificadores abrem mão de copiar ou o fazem de maneira pouco eficiente. Resulta num produto de trama difusa, enquanto a trama original é clara e bem visível mesmo a olho nu.
Trama de lentes de olho de um Phacopina.
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A falsificação abaixo mostra claramente este ponto. Apesar de ser um belo exemplar, a rede das lentes dos olhos se foi, indicando a provável falsificação, que, neste caso, é certa.
Falsificação de um trilobita.

Além disto, também há um pequeno desgaste mostrando colagem entre o exemplar e a rocha na qual ele foi aplicado. Isto devido às naturais dificuldades de se disfarçar a resina que complementou e fixou o pseudo-fóssil.
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Se estiver diante de um fóssil e ainda tiver dúvidas, um exame que costuma desmascarar a falsificação é o submetimento do material à luz ultravioleta.
Originais mostram distribuição clara e apropriada da luz entre o fóssil e a matriz. Falsificações em que se usaram aplicações a partir de resinas mostram grandes diferenças. entretanto, deve-se ter cuidado pois há, em alguns lugares, aplicação de pastas e tintas sobre os trilobitas, de maneira a melhor preservá-los e destacá-los.
O melhor a fazer é tomar um solvente como acetona e livrar o material da sua cobertura de tinta.
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Uma outra falsificação típica e óbvia, mas que pode iludir leigos e despreparados é a da "Assembléia Fóssil". Nessa modalidade podem ser unidos exemplares verdadeiros da mesma espécie, agregados artificialmente, através de colagem, simulando uma mortandade coletiva. Também podem aparecer vários gêneros diferentes, contendo fósseis reais, porém unidos numa situação completamente artificial, indicando uma pseudo-mortandade coletiva de uma comunidade. Ou ainda, num caso também comum, podem ser agregados, por colagem, fósseis verdadeiros e falsos juntos.
pseudo-Assembléia fóssil, formada por fósseis verdadeiros e falsos.
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pseudo-Assembléia fóssil, formada somente por fósseis verdadeiros.
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pseudo-Assembléia fóssil, formada por fósseis de trilobitas verdadeiros, agregados artificialmente, e alguns falsos.
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A falsificação abaixo é muito interessante:

Revelada através de um corte, temos uma camada cinza, que é uma rocha verdadeira. Sobre ela, em cinza claro, aparece a aplicação de uma resina que complementou e fixou o "fóssil" de um "trilobita espinhoso".
O "trilobita" é um real Homalonotid, que foi complementado e colado sobre a rocha. Apara dar um "ar espinhoso" ao trilobita, foram colados os "espinhos", que são, na verdade, conchas de antigos pequenos moluscos fósseis, no caso, pequenos Orthoceras.
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A falsificação pode ser realizada a partir de um molde obtido a partir de um fóssil original, é fabricado com massa feita a partir da rocha pulverizada uma réplica. Essa é aplicada sobre a rocha original, melhorada, esculpida, mas, geralmente, um especialista poderá perceber imperfeições na reconstituição do esqueleto.
Também a escultura diretamente na rocha, portanto sem aplicações e colagem de material, pode ser realizada, de maneira a se furtar a ter que disfarçar colagens.
Disfarçando-se as emendas, aparecerá a peça pintada em cinza escuro para tentar caracterizar uma diferença que revele o fóssil. A imagem abaixo exibe uma falsificação de um Keichousaurus, que foi completamente esculpida na própria rocha.
Nesta peça aparece uma característica freqüente em falsificações chinesas. A peça foi quebrada e emendada para fingir originalidade.
Fóssil falso de Keichousaurus
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Uma diferença gritante aparece precisamente nessas emendas, que são realizadas por meio de cimento e cola.
As fraturas e emendas naturais que aparecem em fósseis naturais e são preenchidas por Calcita (CaCO3). No detalhe abaixo aparece o preenchimento artificial com cimento branco:
Fóssil falso de Keichousaurus
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Fontes:
http://paleodirect.com/
http://www.fossilmuseum.net/
http://www.wikihow.com/
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