Nuvem Iridescente, vista a partir do edifíco sede da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração, em Salvador, Bahia..
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Nuvens iridescentes são fotometeoros, isto é, fenômenos óticos que ocorrem na atmosfera, sendo mais ou menos raros. Um deles é o arco-íris. Outro, bem menos freqüente, são as nuvens iridescentes.
Nuvens iridescentes são irisações que se revelam pela ocorrência de cores em nuvens. Ocorre em nuvens como altocumulus, cirrus, cirrus estratus, cirrus cumulus. Sua presença pode ser desde cores altamente vívidas a desbotadas, mais ou menos perláceas.
São devidas a um fenômeno chamado Difração, no caso Difração Ótica, que ocorre quando da passagem da luz solar através de gotículas d'água ou cristaizinhos de gelo.
Difração ótica é um evento que ocorre quando as ondas luminosas passam por um orifício ou realizam um contorno de um objeto que possui dimensão da mesma ordem de grandeza que o seu comprimento de onda.
Ou seja, podemos contar com esse efeito quando temos um elemento que se comporte como uma trama fina, constituindo pequenos obstáculos. No caso, para as nuvens iridescentes, devemos considerar as gotículas de água na nuvem como as formadoras dessa trama.
Diferem-se daqueles efeitos provocados por critais de gelo um pouco maiores, que produzem halos, que não são fruto de difração, mas de refração. São resultado da ação da luz sobre gotículas algo maiores, que não produzem iridescência, produto da difração, mas sim fenômenos relacionados à refração, como o arco-íris.
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Nuvem Iridescente - 29 de dezembro de 2009 - Centro Administrativo da Bahia - Salvador - Bahia..
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Os tamanhos das gotas são basicamente similares, provocando esse efeito de iridescência. Quanto mais homogêneas as gotículas, mais intensas as cores.
Nuvens tênues similares a essas provocam uma coroa iridescence em torno do Sol ou da Lua.
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Nuvem iridescente - 10 de janeiro de 2010 - Bairro da Graça - Salvador - Bahia.
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Ocorrências anotadas:
- 29 de dezembro de 2009, 17:00 a 17:30, temperatura marcava 28°C, o tempo estava parcialmente nublado, com vento L a 24 km/h e umidade de 84%. Vista do Centro Administrativo, sentido oeste-noroeste.
- 10 de janeiro de 2010, 14:25 a 14:45, temperatura 29 - 31°C, tempo parcialmente nublado, vento SE a 11 km/h e umidade de 74%. Vista da Barra e Graça, posição quase zenital a oeste-noroeste
- 17 de Fevereiro de 2011, 16:59 a 17:15, temperatura 29 - 30°C, tempo parcialmente nublado, umidade 66% a 80%, vista das proximidades do Aeroporto, sentido de visada oeste-noroeste.
- 22 de dezembro de 2001, 17:50 18:00 (horário de verão), tempo parcialmente nublado, vista do Centro Administrativo, sentido de visada leste-oeste.
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- Iridescent clouds - Bahia - Brazil
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terça-feira, 29 de dezembro de 2009
"Pahelia" em Senhor do Bonfim, Bahia.
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A visão de Parhelia é um fenômeno relativamente.
Um Parhelion é um fenômeno de projeção de pontos laterais ao Sol, sobre um halo solar. É um fenômeno atmosférico, um meteoro, formado quando há jogos apropriados de refração e reflexão da luz solar em cristais de gelo atmosférico, geralmente relacionados a cirrus ou cirrostratus.
Como a visão é lateral, no anel, geralmente, quando as condições são boas, vêem-se Parhelia, um em cada lado do Sol.
Pahelia em localidade do norte europeu
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Este fenômeno foi visível no dia 27 de dezembro de 2009, às 17horas e 25 minutos, em Senhor do Bonfim, Bahia.
A fotografia abaixo foi tomada a partir das proximidades da estação ferroviária.
Pahelia - Senhor do Bonfim, Bahia.
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A temperatura oscilou, nesse dia, entre cerca de 32°C a 21°C, estando, no momento do evento, a cerca de 26 graus. O tempo se apresentava com Névoa, vento L a 10 km/h, e umidade de 71%.
Senhor do Bonfim, Bahia.
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Como se formam Pahelia?
Esta é a visão tradicional dos raios solares:
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Por vezes, há cristais de gelo na atmosfera, interferindo no caminho dos raios de sol.
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Os cristais de gelo refratam, isto é, desviam o caminho dos raios do sol, que mergulham em direção ao observador em ângulos de 22 graus ou um pouco mais, em relação à vista direta do Sol.
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Como conseqüência, o espectador vê a projeção de imagens laterais, separadas de um eixo central em 22 graus ou um pouco mais.
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O que existe é uma tênue camada de cristais de gelo flutuando, representado por nuvens altas tipo cirrus, no caso muito tênues. Juntos, atuam como se fossem parte de um único grande cristal.
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Pronto.
Não esqueçam de sempre olhar o Céu. Algum dia podem ver Parhelia.
Outros fotometeoros como nuvens iridescentes e halos também são pouco comuns, em Salvador, mas aparecem.
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- Parhelia - Sundogs - Nebensonnen - Photometeor - Bahia - Brazil - Brasilien
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A visão de Parhelia é um fenômeno relativamente.
Um Parhelion é um fenômeno de projeção de pontos laterais ao Sol, sobre um halo solar. É um fenômeno atmosférico, um meteoro, formado quando há jogos apropriados de refração e reflexão da luz solar em cristais de gelo atmosférico, geralmente relacionados a cirrus ou cirrostratus.
Como a visão é lateral, no anel, geralmente, quando as condições são boas, vêem-se Parhelia, um em cada lado do Sol.
Pahelia em localidade do norte europeu
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Este fenômeno foi visível no dia 27 de dezembro de 2009, às 17horas e 25 minutos, em Senhor do Bonfim, Bahia.
A fotografia abaixo foi tomada a partir das proximidades da estação ferroviária.
Pahelia - Senhor do Bonfim, Bahia.
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A temperatura oscilou, nesse dia, entre cerca de 32°C a 21°C, estando, no momento do evento, a cerca de 26 graus. O tempo se apresentava com Névoa, vento L a 10 km/h, e umidade de 71%.
Senhor do Bonfim, Bahia.
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Como se formam Pahelia?
Esta é a visão tradicional dos raios solares:
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Por vezes, há cristais de gelo na atmosfera, interferindo no caminho dos raios de sol.
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Os cristais de gelo refratam, isto é, desviam o caminho dos raios do sol, que mergulham em direção ao observador em ângulos de 22 graus ou um pouco mais, em relação à vista direta do Sol.
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Como conseqüência, o espectador vê a projeção de imagens laterais, separadas de um eixo central em 22 graus ou um pouco mais.
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O que existe é uma tênue camada de cristais de gelo flutuando, representado por nuvens altas tipo cirrus, no caso muito tênues. Juntos, atuam como se fossem parte de um único grande cristal.
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Pronto.
Não esqueçam de sempre olhar o Céu. Algum dia podem ver Parhelia.
Outros fotometeoros como nuvens iridescentes e halos também são pouco comuns, em Salvador, mas aparecem.
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- Parhelia - Sundogs - Nebensonnen - Photometeor - Bahia - Brazil - Brasilien
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Nuvens iridescentes em Tanquinho, Bahia.
Nuvem Iridescente, em Tanquinho, antigo Tanquinho de Feira, na Bahia.
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Nuvens iridescentes são fotometeoros, isto é, fenômenos óticos que ocorrem na atmosfera, sendo mais ou menos raros. Um deles é o arco-íris. Outro, bem menos freqüente, são as nuvens iridescentes.
Nuvens iridescentes são irisações que se revelam pela ocorrência de cores em nuvens. Ocorre em nuvens como altocumulus, cirrus, cirrus estratus, cirrus cumulus. Sua presença pode ser desde cores altamente vívidas a desbotadas, mais ou menos perláceas.
São devidas a um fenômeno chamado Difração, no caso Difração Ótica, que ocorre quando da passagem da luz solar através de gotículas d'água ou cristaizinhos de gelo.
Difração ótica é um evento que ocorre quando as ondas luminosas passam por um orifício ou realizam um contorno de um objeto que possui dimensão da mesma ordem de grandeza que o seu comprimento de onda.
Ou seja, podemos contar com esse efeito quando temos um elemento que se comporte como uma trama fina, constituindo pequenos obstáculos. No caso, para as nuvens iridescentes, devemos considerar as gotículas de água na nuvem como as formadoras dessa trama.
Diferem-se daqueles efeitos provocados por critais de gelo um pouco maiores, que produzem halos, que não são fruto de difração, mas de refração. São resultado da ação da luz sobre gotículas algo maiores, que não produzem iridescência, produto da difração, mas sim fenômenos relacionados à refração, como o arco-íris.
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Nuvem Iridescente, em Tanquinho, antigo Tanquinho de Feira, na Bahia.
Os tamanhos das gotas são basicamente similares, provocando esse efeito de iridescência. Quanto mais homogêneas as gotículas, mais intensas as cores.
Nuvens tênues similares a essas provocam uma coroa iridescence em torno do Sol ou da Lua.
Tanquinho
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A bela nuvem iridescente foi anotada em Tanquinho, mostrada nas fotos acima, ocorreu em 28 de Dezembro de 2009, às 13 horas e 15 minutos. Temperatura a médios 29°C, máxima de 35°C e mínima de 23°C, no dia, com tempo parcialmente nublado, vento L a 32 km/h e umidade de 84%. O sentido da Fotografia exposta nesta comunicação é Azimuth 210 graus.
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- Iridescent clouds - Bahia - Brazil
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Nuvens iridescentes são fotometeoros, isto é, fenômenos óticos que ocorrem na atmosfera, sendo mais ou menos raros. Um deles é o arco-íris. Outro, bem menos freqüente, são as nuvens iridescentes.
Nuvens iridescentes são irisações que se revelam pela ocorrência de cores em nuvens. Ocorre em nuvens como altocumulus, cirrus, cirrus estratus, cirrus cumulus. Sua presença pode ser desde cores altamente vívidas a desbotadas, mais ou menos perláceas.
São devidas a um fenômeno chamado Difração, no caso Difração Ótica, que ocorre quando da passagem da luz solar através de gotículas d'água ou cristaizinhos de gelo.
Difração ótica é um evento que ocorre quando as ondas luminosas passam por um orifício ou realizam um contorno de um objeto que possui dimensão da mesma ordem de grandeza que o seu comprimento de onda.
Ou seja, podemos contar com esse efeito quando temos um elemento que se comporte como uma trama fina, constituindo pequenos obstáculos. No caso, para as nuvens iridescentes, devemos considerar as gotículas de água na nuvem como as formadoras dessa trama.
Diferem-se daqueles efeitos provocados por critais de gelo um pouco maiores, que produzem halos, que não são fruto de difração, mas de refração. São resultado da ação da luz sobre gotículas algo maiores, que não produzem iridescência, produto da difração, mas sim fenômenos relacionados à refração, como o arco-íris.
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Nuvem Iridescente, em Tanquinho, antigo Tanquinho de Feira, na Bahia.
Os tamanhos das gotas são basicamente similares, provocando esse efeito de iridescência. Quanto mais homogêneas as gotículas, mais intensas as cores.
Nuvens tênues similares a essas provocam uma coroa iridescence em torno do Sol ou da Lua.
Tanquinho
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A bela nuvem iridescente foi anotada em Tanquinho, mostrada nas fotos acima, ocorreu em 28 de Dezembro de 2009, às 13 horas e 15 minutos. Temperatura a médios 29°C, máxima de 35°C e mínima de 23°C, no dia, com tempo parcialmente nublado, vento L a 32 km/h e umidade de 84%. O sentido da Fotografia exposta nesta comunicação é Azimuth 210 graus.
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- Iridescent clouds - Bahia - Brazil
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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Pangéias
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Pangéia é uma agregação de todas as massas continentais terrestres. Ao contrário do que pensam muitos, podem existir, entre elas, áreas de mares. Entretanto, o grande diferencial é que essas águas têm fundo continental. Ou seja, não são águas oceânicas.
Houve quatro Pangéias na História Geológica.
A primeira pangéia denomina-se Columbia, tendo surgido entre 2,0 e 1,9 bilhão de anos atrás. Foi formada pela uma agregação relativa dos três grandes continentes, Atlântica, Ártica e Ur. Os terrenos baianos encontravam-se dentro do continente de Atlântica, passando a ocupar uma região central naquela pangéia.
Há 1,5 bilhão de anos essa primeira pangéia viu-se, finalmente, estilhaçada, formando vários continentes.
Há 1,1 milhão de anos atrás formou-se uma nova Pangéia, a Rodínia. Sua coesão foi mantida até 750 milhões de anos atrás, dando-se novo espedaçamento.
Nova agregação, isto é, outra Pangéia, ocorreu há 600 milhões de anos, estendendo-se até 540 milhões de anos atrás. Foi a denominada Pannotia.
Finalmente, a última pangéia foi aquela denominada Pangéia, formada há 255 milhões de anos. É a Pangéia propriamente dita, formada por duas partes principais, a Laurásia e o Gondwana, em parte separadas pelo Oceano Tethis. A Bahia ocupava sua posição dentro do Gondwana.
Há cerca de 225 milhões de anos, o Pangéia sofreu sua primeira grande cisão, com Laurásia e Gondwana separando-se.
O Gondwana, formado pelas maiores partes do que atualmente conhecemos como América do Sul, África, Austrália, Antártica e Índia, mergulharia, ele próprio, em seu processo de cisões contínuas, até que essas partes se vissem separadas.
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Pangéia é uma agregação de todas as massas continentais terrestres. Ao contrário do que pensam muitos, podem existir, entre elas, áreas de mares. Entretanto, o grande diferencial é que essas águas têm fundo continental. Ou seja, não são águas oceânicas.
Houve quatro Pangéias na História Geológica.
A primeira pangéia denomina-se Columbia, tendo surgido entre 2,0 e 1,9 bilhão de anos atrás. Foi formada pela uma agregação relativa dos três grandes continentes, Atlântica, Ártica e Ur. Os terrenos baianos encontravam-se dentro do continente de Atlântica, passando a ocupar uma região central naquela pangéia.
Há 1,5 bilhão de anos essa primeira pangéia viu-se, finalmente, estilhaçada, formando vários continentes.
Há 1,1 milhão de anos atrás formou-se uma nova Pangéia, a Rodínia. Sua coesão foi mantida até 750 milhões de anos atrás, dando-se novo espedaçamento.
Nova agregação, isto é, outra Pangéia, ocorreu há 600 milhões de anos, estendendo-se até 540 milhões de anos atrás. Foi a denominada Pannotia.
Finalmente, a última pangéia foi aquela denominada Pangéia, formada há 255 milhões de anos. É a Pangéia propriamente dita, formada por duas partes principais, a Laurásia e o Gondwana, em parte separadas pelo Oceano Tethis. A Bahia ocupava sua posição dentro do Gondwana.
Há cerca de 225 milhões de anos, o Pangéia sofreu sua primeira grande cisão, com Laurásia e Gondwana separando-se.
O Gondwana, formado pelas maiores partes do que atualmente conhecemos como América do Sul, África, Austrália, Antártica e Índia, mergulharia, ele próprio, em seu processo de cisões contínuas, até que essas partes se vissem separadas.
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domingo, 13 de dezembro de 2009
"O meteorito de Bendegó", por Maria Elizabeth Zucolotto
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Artigo redigido por Maria Elizabeth Zucolotto
Museu Nacional / UFRJ
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"O Bendegó é o maior meteorito brasileiro conhecido até o momento. Pesa 5,36 toneladas e mede 2,15m x 1,5m x 65cm. De formato meio achatado, lembra uma sela de montaria. Trata-se de uma massa compacta, de ferro e níquel, contendo outros elementos em quantidades menores ( ver tabela 1).
Apesar de seu colossal tamanho, ele já não mais figura entre os dez maiores do mundo, muito embora fosse o segundo em peso e medida à época de seu descobrimento (ver tabela 2 ). Foi descoberto no interior da Bahia e hoje se encontra em exposição na sala de meteoritos do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
A seguir contaremos a história da sua descoberta e do engenhoso transporte de que foi alvo, até à cidade do Rio de Janeiro.
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História
Foi descoberto pelo menino Domingos da Motta Botelho, em 1784. O garoto campeava o gado quando percebeu que, ali, na invernada, havia uma pedra grande, amarronsada, bem diferente das outras da Região. Chegando em casa, comentou com o pai a sua descoberta. Aquele, um fiel súdito do Governo -- Joaquim da Motta Botelho, informou às autoridades ter encontrado, sobre uma elevação próxima ao Rio Vaza Barrís, nos sertões de Monte Santo, Bahia, “uma ‘pedra’ de tamanho considerável da qual se presumia conter ouro e prata”. O então Governador, D. Rodrigo, ficou muito impressionado com a descoberta e, no ano seguinte,1785 encarregou o Capitão-mor de Itapicurú, Bernardo Carvalho da Cunha, de providenciar o seu transporte para a capital, Salvador.
O Capitão Cunha escavou ao redor do meteorito uns 4 níveis. Auxiliado por 30 homens e algumas alavancas, conseguiu colocar o meteorito sobre uma carreta especialmente construída para o transporte de carga tão pesada. Para facilitar a passagem, ele pavimentou uma pequena estrada até o riacho. Tendo 12 juntas de bois atreladas ao veículo, partiu vagarosamente sobre um leito de pedra especialmente construído para a passagem da carreta. Seu plano era levar o meteorito até o Riacho de Bendegó e depois para o Rio Vaza Barrís, até alcançar o Porto de Salvador e, de lá, seguir de navio até a capital.
Tudo corria bem até a descida do leito do riacho onde, não dispondo de freios, o veículo ganhou momento, tendo sua velocidade acelerada em muito, o que impôs um atrito sobre os eixos, incendiando-os. A carreta correu desenfreadamente morro abaixo, indo parar junto com o meteorito no leito do riacho Bendegó, dentro de uma ipueira, a apenas 180 metros do ponto de partida. Nunca se soube se algum boi veio a morrer neste atrapalhado empenho.
Bernardo Carvalho da Cunha, em face do acontecido e levado pelo desânimo, abandonou a façanha. Cientificado do fato, D. Rodrigo levou-o ao conhecimento do Ministro de Estado de Portugal, enviando-lhe alguns fragmentos do material. O fracasso, entretanto, veio a favorecer o fato de o meteorito encontrar-se hoje no Brasil, pois, de outra forma, teria ido parar em Portugal ou teria sido totalmente fundido em busca de metais preciosos.
A notícia, correu o mundo e a misteriosa “pedra” foi visitada por alguns cientistas viajantes, entre os quais A. F. Mornay que, em 1810, suspeitando tratar-se de um meteorito, foi a Monte Santo, encontrando-a exatamente no local onde fora deixada, vindo a constatar que, de fato, tratava-se de um meteorito. Com muita dificuldade, conseguiu retirar-lhe uns poucos fragmentos, que juntamente com as observações pessoais colhidas foram remetidos a Wollaston, da Real Sociedade de Londres.
Seis anos mais tarde, era publicada no “Philosophical Transactions” a carta de Mornay e as análises realizadas por Wollaston. Em suas informações, Mornay atribuía ao meteorito o volume de 28 pés cúbicos e o peso de 14.000 libras e com as dimensões de 7 pés x 4 pés x 2 pés de espessura.
Outros visitantes ilustres foram a dupla de naturalistas alemães, Spix e Martius, em 1820, os quais foram conhecer o meteorito em companhia de seu descobridor Domingos da Motta Botelho, já um homem àquela época. Encontraram o meteorito no mesmo ponto deixado, e ainda sobre a carreta do Cap. Cunha. Com muita dificuldade, e depois de atearem fogo à “pedra” por 24 horas, conseguiram retirar alguns fragmentos do meteorito, os quais foram levados para a Europa, o maior deles sendo doado ao Museu de Munique.
Como na estória da Bela Adormecida, o meteorito permaneceu no leito do rio por cerca de 100 anos quando, em 1883, o Prof. Orville Derby, do Museu Nacional, tomou conhecimento do meteorito. Derby contatou o engenheiro da Estrada de Ferro Inglesa (British Rail Road) , que construía uma extensão da estrada de Monte Santo a Salvador, que o notificou que, em breve, a estrada alcançaria o ponto mais próximo ao meteorito, ou seja, cerca de 100 km de distância, em terrenos montanhosos. Contudo, os custos do transporte estariam bem acima das possibilidades do Museu.
Em 1886, o Imperador D. Pedro II tomou conhecimento do fato pela Academia de Ciências de Paris, durante uma visita à França, prontificando-se a providenciar o transporte de peça tão importante para o Rio de Janeiro, assim que retornasse ao Brasil
Aqui , o Imperador chamou o Sr. José Carlos de Carvalho, um oficial aposentado da Guerra do Paraguai, primo do engenheiro da Estrada de Ferro Inglesa contatado por Derby anos antes. Informando-se das possibilidades do transporte, José Carlos de Carvalho procurou apoio da Sociedade Brasileira de Geografia, a qual tomou todas as providências para que o transporte fosse efetuado. A Sociedade encarregou-se, principalmente, da parte financeira, conseguida por intermédio de um generoso patrocínio do Barão de Guahy, cujo nome de batismo era Joaquim Elysio Pereira Marinho.
Organizou-se, então, uma comissão do Império para a recuperação do Bendegó, formada por José Carlos de Carvalho e pelos engenheiros Vicente de Carvalho Filho e Humberto Saraiva Antunes (Fig.1). No dia 7 de setembro de 1887, quando era comemorado o aniversário da Independência, iniciou-se o trabalho de remoção do meteorito, com uma solenidade cívica às margens do riacho Bendegó. Ergueu-se ali, um marco denominado “D. Pedro II” (Fig.2 ), em homenagem ao Imperador. Na ocasião, colocou-se dentro de uma pequena caixa de ferro um exemplar do termo de inauguração do trabalho de remoção e um exemplar do Boletim da Sociedade Brasileira de Geografia, que publicava um memorial sobre o meteorito.
No relatório da viagem, publicado em português e francês, em 1888, o Cap. Carvalho relatou detalhadamente o transporte do Bendegó, a geografia do local e as dificuldades enfrentadas por todos.
Na descrição da geografia local, Carvalho deu uma visão completa da Região, mostrando o erro em que têm incorrido muitos sábios naturalistas que visitam os sertões somente em tempos de seca Este erro consiste em considerarem aquelas paragens como desertos áridos, sem vegetação e inabitáveis. Conforme a época em que o sertão é percorrido, apresenta painéis de natureza tão diferentes, tão opostos entre si, que muitas vezes o naturalista , ou um outro viajante qualquer, custa a crer que o sítio em que se encontra seja o mesmo avistado por ele alguns dias ou semanas antes.
Por ocasião das águas, o que eqüivale a dizer da Vida, a vegetação é pujante e original, o céu límpido e a natureza encantadora. Na época das secas, todavia, os campos se apresentam negros ou pardos e o solo, quando não arenoso, fende-se profundamente; as árvores apresentam-se desnudas, sem folhagem, à exceção dos juazeiros e umbuzeiros; e a paisagem toma um aspecto de Inverno rigoroso, sejam os climas frios ou temperados. Basta, porém, que se precipitem as primeiras chuvas para que a temperatura caia, a vegetação reviva, e, ao cabo de uns poucos dias, o campo se reverdece e fica florido, outra vez, não lembrando em nada a paisagem vista uns dias antes...
A Comissão do Império, após diversos estudos geográficos, escolheu o que seria a melhor rota para o transporte do meteorito até a Estação Férrea de Jacuricy. O caminho escolhido foi o mais curto, embora tivesse que transpor a Serra do Acarú. Foi preciso, igualmente, construir grande parte das estradas, pois as existentes eram muito estreitas e se encontravam em péssimo estado de conservação.
Projetada por José Carlos de Carvalho, mandou-se construir uma carreta que, engenhosamente, poderia andar sobre trilhos, ou sobre rodas, dependendo das condições encontradas no trajeto. A carreta possuía dois pares de grandes rodas de madeira, para rodar em solo, e na parte interna, especialmente calculadas, rodas metálicas para rodar sobre trilhos, de tal modo que, estando sobre estes últimos, as rodas de madeira não tocassem o chão.
Por vezes, o carretão era puxado por juntas de boi. Noutras ocasiões, pondo-se em prática as habilidades de um marinheiro, tirava-se proveito do emprego de estralheiras, talhas dobradas, patescas e estropos, e de todas as engenhosas disposições de cabos e roldanas de que o homem do mar sabe servir-se para, com esforços relativamente pequenos, locomover pesos consideráveis.
No dia 25 de novembro, a carreta começou a se mover sobre o leito do riacho de Bendegó. No dia 7 de dezembro, tendo se movido por apenas 17 km, esse carro primitivo de transporte encontrou as primeiras dificuldades ao cruzar o Rio Tocas. Após dois dias de fortes chuvas, o leito do rio até então seco, estava molhado e escorregadio, ocasionando o descarrilamento do carretão, virando e atirando o meteorito para dentro do riacho. Trabalhou-se por 24 horas ininterrúptas. Fogueiras foram acesas para que se prosseguisse viagem no dia seguinte.
A transposição da Serra do Acarú, que obrigava a uma subida de rampas de 18 a 20% de declive, foi bastante árdua. A operação foi executada por cabos conectados ao carretão e amarrados às árvores mais grossas, propositadamente deixadas na estrada aberta, e puxadas com o auxílio de talhadeiras, talhas e juntas de boi. Conta o relatório que, já quase no sopé da serra, uma árvore cedeu. Os aparelhos se arrebentaram e o carretão precipitou-se por uma rampa de 30% de declive (km 22), indo parar, felizmente, no meio da ladeira, por ter o meteorito saltado na frente do carretão, paralisando-o. Não fosse esta queda providencial e o carretão se teria descarrilado para o fundo de uma grota profunda. Felizmente, as chuvas só começaram a cair depois da passagem da Serra do Acarú. A marcha foi interrompida sete vezes pela queda do meteorito da carreta e quatro vezes para a substituição de eixos que se partiram.
A comissão enfrentou diversas dificuldades, como a construção de estivados em lagoas, armação de passagens provisórias sobre o Rio Jacuricy de 50 metros de vão, levantamento de aterros sobre baixadas alagadas, e o corte de caminhos por entre encostas de morros pedregosos. A Comissão pode orgulhar-se de ter realizado um dos mais, se não o mais notável transporte já efetuado no Brasil.
Toda a marcha de 113 km pelo Sertão, entre o local onde fora abandonado 102 anos antes, e até a Estação de Ferro de Jacuricy, demorou 126 dias, avançando em média cerca de 900m por dia.
No dia 14 de maio de 1888, chegou o meteorito à Estação de Jacuricy, e no dia 16 assentou-se o marco de chegada, denominado “Barão de Guahy”, no exato local de onde o meteorito embarcou com destino ao Museu Nacional do Rio de Janeiro. Foi lavrado um auto com todas as informações concernentes, junto com outro exemplar sobre a viagem, e ambos foram colocados numa caixa de ferro deixada nas fundações do marco. Da Estação de Jacuricy o meteorito embarcou para Salvador e, de trem, percorreu 363 km, chegando a Salvador a 22 de maio de 1888. Lá chegando, foi pesado, verificando-se que o mesmo tinha, então, 5360 kg .
O meteorito ficou em exposição em Salvador durante 5 dias, e em 1o de junho embarcou no vapor “Arlindo”, seguindo para Recife e, posteriormente, para o Rio de Janeiro, onde chegou no dia 15, sendo recebido pela Princesa Isabel e entregue ao Arsenal de Marinha da Corte.
Nas oficinas do Arsenal de Marinha foram feitos os cortes indispensáveis para o estudo da “pedra”, bem como para a obtenção de materiais que foram doados e permutados com diversos museus do Brasil e do mundo. Confeccionou-se, também, uma réplica do meteorito em madeira, que o governo brasileiro fez figurar na Exposição Universal de 1889. Este modelo hoje se encontra no Museu de História Natural de Paris.
Concluído o trabalho, o meteorito foi transportado a 27 de novembro de 1888 para o Museu Nacional, nessa época situado no Campo de Sant’Anna,.
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Revisitando o Bendegó
Percorremos a história do Bendegó em companhia do nosso estagiário Sandro de O. Gomes e de um pesquisador e estudioso desse meteorito, Wilton de Carvalho. Nossa visita aconteceu em época de seca extrema e isso nos permitiu constatar quão dura é a vida naquele lugar e de como o sertanejo precisa ser forte, deveras, para poder lidar com situação semelhante. Não havendo água, quando a encontra, precisa carregá-la em baldes, por muitas e muitas centenas de metros... O gado morre de fome não tendo o que comer ou beber, exceto umas bem minguadas palmas que são picadas por seus proprietários. Observa-se um interior brasileiro que praticamente não evoluiu em nada, num contraste gritante com a modernidade das cidades vizinhas, um contraste entre Brasis muito próximos e tão distantes!...
Retomando-se os caminhos da História, fica-se sabedor de que, hoje, o marco “D. Pedro II” não mais existe, uma vez que, alguns anos depois da remoção do meteorito, a região foi assolada por uma seca enorme, cujo acontecimento o sertanejo atribuiu, supersticiosamente, à remoção da pedra. Derrubaram o marco em busca da pedra irmã e ali encontraram a caixa metálica onde, segundo se diz, havia apenas um papel onde se lia “Jesus, Maria e José”!!. Provavelmente tratava-se dos autos lidos por um analfabeto qualquer...
Devido à estação das secas em que nossa viagem se deu, o riacho Bendegó encontrava-se totalmente árido. O Rio Jacuricy tinha muito pouca água e as estradas construídas pela Comissão do Império já não se podia reconhecer.
Na Estação de Jacuricy ainda se pode ver o marco “Barão de Guahy”, que lembra a todos como ocorreu o famoso transporte do Bendegó.
Em Monte Santo, existe uma réplica, em tamanho original, do Meteorito de Bendegó, mas pouco se sabe sobre a natureza da peça original no Museu Nacional.
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Descrição do meteorito
O meteorito de Bendegó é uma massa irregular, de 220 x 145 x 58 cm. lembrando, em aspecto, um asteróide. Apresenta inúmeras depressões na superfície e buracos cilíndricos orientados paralelamente a seu comprimento maior. Estes buracos se formaram pela queima do sulfeto troilita, durante a passagem transatmosférica do meteorito, uma vez que o sulfeto tem um ponto de fusão mais baixo que o restante do meteorito, consumindo-se mais rapidamente.
A “pedra” é um meteorito metálico, também conhecido como siderito. É constituído basicamente de ferro, com os seguintes elementos: 6,6% Ni, 0,47% Co, 0,22%P, e traços de S e C em quantidades bem menores, só medidas em partes por milhão.
A superfície convenientemente polida e atacada com ácido revela faixas, ou lamelas entrelaçadas, segundo planos octaédricos. Esta é a conhecida Estrutura de Widmanstatten, que pode identificar um meteorito, pois não se consegue reproduzir artificialmente no aço terrestre.
A espessura e a distribuição destas lamelas determinam a classificação do meteorito que, no caso, é um octaedrito grosseiro, pois as lamelas apresentam uma espessura média de 1,8mm.
O Bendegó pouco oxidou passados duzentos anos de sua descoberta e, a julgar pela camada de 435cm de oxidação sobre a qual repousava, e a parte perdida de sua porção inferior, é de se esperar que apresente uma idade terrestre bem avançada, ou seja: caiu naquela região há milhares de anos atrás."
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Tabela 1 – Composição do Bendegó
- Porcentagem %
Ni - 6,6
Co - 0,45
P - 0,22
- Partes por milhão (ppm)
C - 155
S - 20
Cr - 32
Cu - 174
Zn - 19
Ga - 50
Ge - 232
Ir - 0,3
Pt - 10,5
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Fonte:
http://www.meteoritos_brasileiros.kit.net/Bendegoartigo.htm
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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Bahianita... um mineral baiano.
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A Bahianita é um mineral, um Óxido de Alumínio e Antimônio, que tem fórmula química:
Al5Sb5 + 3 O14 (OH)2
Foi encontrado no Município de Érico Cardoso, antigo Água Quente,a na Bahia.
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Tecnicamente, a Bahianita é um mineral do sistema monoclínico, pseudo-ortorômbico. É comum em pequenos grãos até 1,8 a 2,0 cm de comprimento maior, aparecendo polycristalino ou estruturado fibroso-radialmente. Seus minerais podem aparecer encurvados e estriados, em forma de diamante ou retangular.
Forma cristais pseudohexagonais, por geminação.
Sua clivagem é perfeita. Fraturas irregulares. Sua dureza é 9.
O mineral apresenta densidade, geralmente, entre 4,78 e 5,29, sendo que os cristais mais puros possuem densidade aproximada 5,46.
É transparente a translúcida. A color vai do marrom claro ao alaranjado, e ao levemente violáceo. É amarelo em fraturas internas.
Oticamente é Biaxial negativo. Tem fraco pleocroismo.
Ocorre em concentrados residuais relacionados a rochas vulcânicas alteradas. Associa-se a quartzo, andalusita, cianita, cassiterita, ouro, dentre outros. (*4)
Apareceu a cerca de outo quilômetros sudoeste do Povoado de Paramirim das Crioulas, na região do Rio do Picos das Almas, na Serra das Almas, Município de Érico Cardoso, Bahia.
Composição. Fonte: (*4)
Fórmula: Al5Sb5 + 3 O14 (OH)2
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Peso Molecular = 758,16 gm
- Elementos (*4):
17,79 % Al
48,18 % Sb
33,76 % O
00,27 % H
- Óxidos (*4):
33,62 % Al2O3
64,00 % Sb2O5
02,38 % H2O
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Imagens:
Bahianita - Rio Pico das Almas, Paramirim das Criolas, Município de Érico Cardoso. - Foto e coleção de Luigi Chiappino(*3)
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Bahianita - Rio Pico das Almas, Paramirim das Criolas, Município de Érico Cardoso. - Foto e coleção de Luigi Chiappino(*3)
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Bahianita - Rio Pico das Almas, Paramirim das Criolas, Município de Érico Cardoso. - Foto e coleção de Luigi Chiappino(*3)
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Bahianita - Rio Pico das Almas, Paramirim das Criolas, Município de Érico Cardoso. - Diâmetro médio: cerca de 4mm. Foto e coleção de O. Dziallas(*4)
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Fontes:
(*1) - Simkev Minerals:
http://www.simkevmicromounts.com/images/SOUTHAMERICAPhotos/SouthAmericanMineralPhotoPages/Bahianite_765.html
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(*2) - Mineral Data Publishing: Handbook of Mineralogy:
http://www.handbookofmineralogy.org/pdfs/BAHIANITE.pdf
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(*3) - Mindat.org: http://www.mindat.org/gallery.php?min=484
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(*4) - http://webmineral.com/data/Bahianite.shtml
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A Bahianita é um mineral, um Óxido de Alumínio e Antimônio, que tem fórmula química:
Al5Sb5 + 3 O14 (OH)2
Foi encontrado no Município de Érico Cardoso, antigo Água Quente,a na Bahia.
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Tecnicamente, a Bahianita é um mineral do sistema monoclínico, pseudo-ortorômbico. É comum em pequenos grãos até 1,8 a 2,0 cm de comprimento maior, aparecendo polycristalino ou estruturado fibroso-radialmente. Seus minerais podem aparecer encurvados e estriados, em forma de diamante ou retangular.
Forma cristais pseudohexagonais, por geminação.
Sua clivagem é perfeita. Fraturas irregulares. Sua dureza é 9.
O mineral apresenta densidade, geralmente, entre 4,78 e 5,29, sendo que os cristais mais puros possuem densidade aproximada 5,46.
É transparente a translúcida. A color vai do marrom claro ao alaranjado, e ao levemente violáceo. É amarelo em fraturas internas.
Oticamente é Biaxial negativo. Tem fraco pleocroismo.
Ocorre em concentrados residuais relacionados a rochas vulcânicas alteradas. Associa-se a quartzo, andalusita, cianita, cassiterita, ouro, dentre outros. (*4)
Apareceu a cerca de outo quilômetros sudoeste do Povoado de Paramirim das Crioulas, na região do Rio do Picos das Almas, na Serra das Almas, Município de Érico Cardoso, Bahia.
Composição. Fonte: (*4)
Fórmula: Al5Sb5 + 3 O14 (OH)2
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Peso Molecular = 758,16 gm
- Elementos (*4):
17,79 % Al
48,18 % Sb
33,76 % O
00,27 % H
- Óxidos (*4):
33,62 % Al2O3
64,00 % Sb2O5
02,38 % H2O
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Imagens:
Bahianita - Rio Pico das Almas, Paramirim das Criolas, Município de Érico Cardoso. - Foto e coleção de Luigi Chiappino(*3)
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Bahianita - Rio Pico das Almas, Paramirim das Criolas, Município de Érico Cardoso. - Foto e coleção de Luigi Chiappino(*3)
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Bahianita - Rio Pico das Almas, Paramirim das Criolas, Município de Érico Cardoso. - Foto e coleção de Luigi Chiappino(*3)
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Bahianita - Rio Pico das Almas, Paramirim das Criolas, Município de Érico Cardoso. - Diâmetro médio: cerca de 4mm. Foto e coleção de O. Dziallas(*4)
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Fontes:
(*1) - Simkev Minerals:
http://www.simkevmicromounts.com/images/SOUTHAMERICAPhotos/SouthAmericanMineralPhotoPages/Bahianite_765.html
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(*2) - Mineral Data Publishing: Handbook of Mineralogy:
http://www.handbookofmineralogy.org/pdfs/BAHIANITE.pdf
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(*3) - Mindat.org: http://www.mindat.org/gallery.php?min=484
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(*4) - http://webmineral.com/data/Bahianite.shtml
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Areia Preta, na Praia da Barra, em Salvador, Bahia.
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A Praia da Barra, em Salvador, Bahia, apresenta, costumeiramente, próximo ao Morro do Cristo, áreas escuras. Estas são, muitas vezes, confundidas pelos leigos com sujeira. Trata-se, entretanto, de uma deposição natural de um mineral denominado Ilmenita, que é um óxido natural de Ferro e Titânio - FeTiO3. É, portanto, uma areia titanífera.
Grande acúmulo de areia preta, próximo ao Morro do Cristo, na Praia da Barra - Afloramento A - Salvador, Bahia.
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Entre as atuais Praias da Barra e de Ondina, em Salvador, o acúmulo de areias escuras era tanto que havia uma praia denominada Praia de Areia Preta.
João Bigarella (*2) lembra que "a ação das correntes marinhas e das ondas é responsável pela construção e modificação das linhas de praia. As correntes transportam o material mecanicamente e as ondas selecionam-no."
Bigarella (*2) lembra também que "um depósito praial sempre é estratificado." Daí, outro ponto para o qual deve ser chamada a atenção, para a Areia Preta da Praia da Barra, em Salvador, é a formação de níveis, bem visível em cortes, devido à sucessão de deposição de camadas mais ricas em ilmenita ou quartzo. Além disto, há a influência da deposição alternada de sedimentos especialmente de areia mais fina e mais grossa, seqüencialmente.
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Mapa de Localização dos Pontos - Praia da Barra - Salvador - Bahia.
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A sua observação deixa claro que, nas estruturas sedimentares de areia quartzosa mais afastadas do Morro do Cristo e próximas do Farol da Barra, a quantidade de titanita diminuiu bastante.
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Estruturas sedimentares intercalando areia quartzosa e areia titanífera. - Afloramento B - Proximidades do Morro do Cristo - Praia da Barra - Salvador - Bahia.
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Sua fonte são os intemperismo e erosão das rochas vizinhas, granulitos antigos, com 2,2 a 2,0 bilhões de anos de idade.
Acumulação similar acontece em pontos do litoral brasileiro.
A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM estudou os depósitos similares de areias ilmeníticas localizados no Município de Ituberá, que se estendem entre os cordões litorâneos dos Municípios de Valença a Itacaré.
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Estruturas sedimentares intercalando areia quartzosa e areia titanífera. - Afloramento B - Proximidades do Morro do Cristo - Praia da Barra - Salvador - Bahia.
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A jazidas da CBPM localizadas na região de Pratigi, no litoral sul da Bahia, representam 8,2 milhões de toneladas de areias ilmeníticas, com teor médio de 3,09% com “minerais pesados”, que são, predominantemente ilmenita, estaurolita e zirconita. Estes agrupam-se em maior concentração em depósitos antigos relacionados a cordões litorâneos antigos.
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Areia titanífera. - Proximidades do Morro do Cristo - Afloramento C - Entre o Morro do Cristo e o Clube Espanhol - Salvador - Bahia.
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Estruturas sedimentares de areia quartzosa, mais afastadas do Morro do Cristo e próximas do Farol da Barra. A quantidade de titanita diminuiu bastante. - Praia da Barra - Afloramento D - Salvador - Bahia.
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As análises mineralométricas efetuadas em 50 amostras de material concentrado conduziu aos seguintes percentuais, para Pratigi, que provavelmente são similares àqueles encontrados nas areias da Praia da Barra, em Salvador:
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MINERAL - (%) - Fonte: (*1)
Ilmenita - 75,14
Estaurolita - 9,31
Zirconita - 4,83
Cianita - 4,26
Silimanita - 1,65
Turmalina - 1,33
Actinolita - 1,22
Andaluzita - 0,97
Granada - 0,59
Rutilo - 0,35
Hiperstênio - 0,23
Espinélio - 0,07
Epidoto - 0,02
Monazita - 0,02
Muscovita - Traços
Anatásio - Traços
Clorita - Traços
Biotita - Traços
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Areia ilmenítica com marcas de corrente. Este efeito aparece quando há uma concentração de grãos com diâmetro médio maior que 0,6 milímetros.
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A questão do impacto ambiental para a exploração dessas jazidas é sempre discutida, considerando a localização de parte das jazidas. Na região de Pratigi, por exemplo, a CBPM desenvolveu estudos que indicaram que, de 21.972.489 toneladas de minério, 1.215.518 toneladas estão situadas em Zona de Mangue e 449.752 em e Zona de vida silvestre.(*1)
Outras Praias Pretas ocorrem no litoral brasileiro, geralmente relacionadas também à presença da Titanita. Destacam-se as situadas em Guarapari, no Espírito Santo, e Natal, no Rio Grande do Norte.
Foram anotadas jazidas similares na Ilha do Mel, Paraná. (*2)
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Fontes:
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(*1) - http://www.cbpm.com.br/paginas/prospectos.php
(*2) - BIGARELLA; João José. “Contribuição ao Estudo da Planície Litorânea do Estado do Paraná.” Curitiba (Paraná): Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas, Braz. arch. biol. technol., v.jubilee. dezembro de 2001.
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A Praia da Barra, em Salvador, Bahia, apresenta, costumeiramente, próximo ao Morro do Cristo, áreas escuras. Estas são, muitas vezes, confundidas pelos leigos com sujeira. Trata-se, entretanto, de uma deposição natural de um mineral denominado Ilmenita, que é um óxido natural de Ferro e Titânio - FeTiO3. É, portanto, uma areia titanífera.
Grande acúmulo de areia preta, próximo ao Morro do Cristo, na Praia da Barra - Afloramento A - Salvador, Bahia.
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Entre as atuais Praias da Barra e de Ondina, em Salvador, o acúmulo de areias escuras era tanto que havia uma praia denominada Praia de Areia Preta.
João Bigarella (*2) lembra que "a ação das correntes marinhas e das ondas é responsável pela construção e modificação das linhas de praia. As correntes transportam o material mecanicamente e as ondas selecionam-no."
Bigarella (*2) lembra também que "um depósito praial sempre é estratificado." Daí, outro ponto para o qual deve ser chamada a atenção, para a Areia Preta da Praia da Barra, em Salvador, é a formação de níveis, bem visível em cortes, devido à sucessão de deposição de camadas mais ricas em ilmenita ou quartzo. Além disto, há a influência da deposição alternada de sedimentos especialmente de areia mais fina e mais grossa, seqüencialmente.
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Mapa de Localização dos Pontos - Praia da Barra - Salvador - Bahia.
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A sua observação deixa claro que, nas estruturas sedimentares de areia quartzosa mais afastadas do Morro do Cristo e próximas do Farol da Barra, a quantidade de titanita diminuiu bastante.
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Estruturas sedimentares intercalando areia quartzosa e areia titanífera. - Afloramento B - Proximidades do Morro do Cristo - Praia da Barra - Salvador - Bahia.
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Sua fonte são os intemperismo e erosão das rochas vizinhas, granulitos antigos, com 2,2 a 2,0 bilhões de anos de idade.
Acumulação similar acontece em pontos do litoral brasileiro.
A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM estudou os depósitos similares de areias ilmeníticas localizados no Município de Ituberá, que se estendem entre os cordões litorâneos dos Municípios de Valença a Itacaré.
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Estruturas sedimentares intercalando areia quartzosa e areia titanífera. - Afloramento B - Proximidades do Morro do Cristo - Praia da Barra - Salvador - Bahia.
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A jazidas da CBPM localizadas na região de Pratigi, no litoral sul da Bahia, representam 8,2 milhões de toneladas de areias ilmeníticas, com teor médio de 3,09% com “minerais pesados”, que são, predominantemente ilmenita, estaurolita e zirconita. Estes agrupam-se em maior concentração em depósitos antigos relacionados a cordões litorâneos antigos.
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Areia titanífera. - Proximidades do Morro do Cristo - Afloramento C - Entre o Morro do Cristo e o Clube Espanhol - Salvador - Bahia.
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Estruturas sedimentares de areia quartzosa, mais afastadas do Morro do Cristo e próximas do Farol da Barra. A quantidade de titanita diminuiu bastante. - Praia da Barra - Afloramento D - Salvador - Bahia.
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As análises mineralométricas efetuadas em 50 amostras de material concentrado conduziu aos seguintes percentuais, para Pratigi, que provavelmente são similares àqueles encontrados nas areias da Praia da Barra, em Salvador:
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MINERAL - (%) - Fonte: (*1)
Ilmenita - 75,14
Estaurolita - 9,31
Zirconita - 4,83
Cianita - 4,26
Silimanita - 1,65
Turmalina - 1,33
Actinolita - 1,22
Andaluzita - 0,97
Granada - 0,59
Rutilo - 0,35
Hiperstênio - 0,23
Espinélio - 0,07
Epidoto - 0,02
Monazita - 0,02
Muscovita - Traços
Anatásio - Traços
Clorita - Traços
Biotita - Traços
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Areia ilmenítica com marcas de corrente. Este efeito aparece quando há uma concentração de grãos com diâmetro médio maior que 0,6 milímetros.
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A questão do impacto ambiental para a exploração dessas jazidas é sempre discutida, considerando a localização de parte das jazidas. Na região de Pratigi, por exemplo, a CBPM desenvolveu estudos que indicaram que, de 21.972.489 toneladas de minério, 1.215.518 toneladas estão situadas em Zona de Mangue e 449.752 em e Zona de vida silvestre.(*1)
Outras Praias Pretas ocorrem no litoral brasileiro, geralmente relacionadas também à presença da Titanita. Destacam-se as situadas em Guarapari, no Espírito Santo, e Natal, no Rio Grande do Norte.
Foram anotadas jazidas similares na Ilha do Mel, Paraná. (*2)
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Fontes:
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(*1) - http://www.cbpm.com.br/paginas/prospectos.php
(*2) - BIGARELLA; João José. “Contribuição ao Estudo da Planície Litorânea do Estado do Paraná.” Curitiba (Paraná): Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas, Braz. arch. biol. technol., v.jubilee. dezembro de 2001.
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Diógenes de Almeida Campos - Entrevista
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"Pedras e ossos do ofício"
Entrevista com Diógenes de Almeida Campos, a Marcos Pivetta.
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Publicada no site da:
:
http://www.universiabrasil.net/
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(Texto gerado automaticamente pela aplicação CVLattes)Diógenes Campos possui graduação em Escola de Geologia pela Universidade Federal da Bahia (1967) e mestrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1978) . Atualmente é Geólogo do Departamento Nacional de Produção Mineral, Chefe do Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral, COORDENADOR DE PROGRAMA da Academia Brasileira de Ciências, MEMBRO EDITORIAL DE REVISTA CIENTIFICA da Academia Brasileira de Ciências, Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, PESQUISADOR ASSOCIADO da American Museum Of Natural History, PROFESSOR CONVIDADO da Universidade Federal do Rio de Janeiro, SECRET. E PRESIDENTE da Sociedade Brasileira de Paleontologia, da Universidade Regional do Cariri, Membro Titular da Academia de Ciências da America Latina e Membro da Comissão Externa de Lexicografia da Academia Brasileira de Letras. Tem experiência na área de Geociências , com ênfase em Geologia. Atuando principalmente nos seguintes temas: Paleontologia de Vertebrados, Sistematica, Répteis.
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A matéria e a entrevista:
"Paleontólogo fala da pesquisa nacional, critica o contrabando de fósseis e diz que o Araripe pode ser o berço das plantas com flores"
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Baiano de Irará que fez carreira no Rio de Janeiro desde fins dos anos 1960, Diógenes de Almeida Campos é um dos pilares da paleontologia nacional. Apesar de estar à frente do Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), que fica num belo e antigo prédio na Praia Vermelha, diz que seu lado burocrata é o que tem de mais fraco. “Sou uma negação como administrador”, afirma, modesto. Curte mesmo é ir a campo para procurar seus fósseis de dinossauros, pterossauros e outros vertebrados. Aos 61 anos, muito ativo, publica com freqüência trabalhos de impacto sobre répteis do período Cretáceo, que viveram entre 144 milhões e 65 milhões de anos atrás, muitos deles oriundos da Chapada do Araripe, situada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.
Gosta de dar nomes brasileiríssimos, de origem indígena, às novas espécies que descreve, como os pterossauros Tapejara imperator e Anhangüera blittersdorff, ambos descritos a quatro mãos com um ex-aluno de doutorado, Alex Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que se tornou um de seus mais próximos parceiros de descobertas. Nesta entrevista Campos fala da história da paleontologia nacional, de seus pontos fortes e fracos, das semelhanças da paisagem geológica nordestina e da China. O contrabando de fósseis brasileiros também é abordado. “O problema é real, em especial no Araripe, e a gente tem de enfrentá-lo”, reconhece. O pesquisador também esclarece como deve funcionar a rede nacional de paleontologia, criada aparentemente de supetão no fim do ano passado.
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Quando começa a paleontologia no Brasil?
— O objeto da paleontologia são os fósseis. Foi preciso encontrar fósseis para haver uma paleontologia brasileira. A data mais antiga é qualquer coisa em torno do final do século 17, princípio do 18, quando teriam sido encontrados ossos de mamíferos em cacimbas na Bahia, como se encontra ainda hoje no estado. Existe um livrinho, Notícias soteropolitanas, que foi escrito por um professor de lingua grega de Salvador, Luís dos Santos Vilhena. O autor fingia ter um amigo em Portugal e escrevia cartas. Ele criou a palavra “soteropolitano” para dizer que é “o natural de Salvador”. “Sotér”, em grego, é salvador; “pólis”, cidade. Então, era “notícias da cidade do Salvador”. E ele fala de um encontro no sertão dos tocós – tocós são os índios – em torno da cidade de Serrinha. Mas isso se perdeu completamente. O primeiro encontro de fósseis comprovado, documentado, é o material citado pelo barão de Eschewege, que foi um coronel do Exército português que veio com d. João VI para cá. O coronel encontrou o material em Minas Gerais, e registra essa ocorrência. Eram mamíferos fósseis do Pleistoceno (entre 1,8 milhão e 11 mil anos atrás), como os da Bahia. Mas o verdadeiro achado que a gente toma sempre como o início da paleontologia nacional é o desenho da cabeça de um peixe da chapada do Araripe, junto com ossos de mamíferos da Bahia, que saiu nos livros publicados pelo zoólogo [Johann Baptiste von] Spix e pelo botânico [Carl Friedrich Phillipp von] Martius entre 1823 e 1831. Eram dois cientistas da Bavária, naturalistas viajantes, que vieram ao Brasil e realizaram uma longa viagem de 1817 a 1820. Vieram na comitiva da princesa Leopoldina, que se casava com o príncipe d. Pedro. A gente brinca que isso já dá um samba de saída. Porque tem rei, tem princesa. Eles não passaram exatamente pela chapada, mas receberam de presente em Oeiras, Piauí, esses fósseis. Foi a primeira ilustração de um fóssil brasileiro que foi divulgado para o mundo. Era realmente um material fóssil de primeira. O ponto importante da descoberta é que, quando o desenho foi publicado, o Brasil já era Brasil.
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Foto fonte: http://www.dnpm.gov.br
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No Império, d. Pedro II estimulou a pesquisa geológica?
— Ele se interessava por isso e criou a Comissão Geológica do Império (em 1875). Antes disso houve as expedições Thayer (1865) e Morgan (1870). Essa última foi financiada pelo JP Morgan, estudou o litoral nordeste do Brasil e fora liderada por Charles Frederic Hartt, canadense que era professor de geologia na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Já havia também a influência do Museu Nacional, que ainda não tinha sido transferido para a Quinta da Boa Vista, mas já tinha um papel importante, com um corpo de estudiosos, coleções, e era aberto a visitantes. Hartt trouxe o Orville A. Derby, que era um geólogo americano, e os dois juntos produziram uma obra bastante expressiva. Posteriormente Derby trabalhou em São Paulo, na Comissão Geológica e Geográfica do Estado de São Paulo, iniciou o mapeamento topográfico de São Paulo, porque não entendia como se podia fazer geologia sem fazer topografia. Isso foi demorado, gastava dinheiro, e ele foi bastante criticado. Hartt e Derby eram coletores de fósseis. Fizeram um trabalho excepcional. Viajavam, coletavam e mandavam os fósseis lá para fora.
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A proclamação da República mudou muito esse quadro?
— Em 1905 o Brasil começou a enfrentar o problema energético. E o problema energético tinha de ser resolvido com o carvão brasileiro. Mas o carvão brasileiro, cujas jazidas ficavam no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, tinha alto teor de cinza, às vezes chegava a 23%, e alto teor de enxofre, o que atrapalhava a sua queima Na verdade, não era um carvão muito bom. E havia outro agravante: as máquinas da estrada de ferro, e outras que vinham para cá, eram feitas na Inglaterra para queimar carvão Cardiff, muito bom. Essas máquinas não se adaptaram a queimar o carvão de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Para resolver o problema, optou-se então pela maneira mais simples: tentar encontrar no Brasil carvão de melhor qualidade. Os ingleses tinham feito isso na África do Sul. Foi isso que fez aparecer os fósseis no Brasil. O estudo de fósseis ligados ao carvão, principalmente vinculados à botânica, começou a se desenvolver. E mais: o estudo dessas minas de carvão, que teve início em Alagoas, na Bahia, e terminou no Sul, promoveu um levantamento geológico do Brasil todo e foi motivo de um relatório chamado “Relatório da Comissão das Minas do Carvão”, publicado em 1905 por um geólogo chamado Israel C. White. Esse é o Relatório White do Carvão. Esse relatório obrigou o governo federal a criar um órgão que se preocupasse com as minas do Brasil; não no sentido de dar concessão, como até hoje se faz, a concessão era feita, então um órgão qualquer, uma secretaria qualquer do ministério dava essa concessão. Mas para que estudasse, selecionasse as áreas para ajudar os mineradores a encontrar carvão e outros minerais. Então foi criado o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, em 1907. E o Derby é convidado para ser o primeiro diretor. Ele foi diretor de 1907 a 1915, imprimiu essa idéia de que era preciso fazer pesquisa científica para achar minério. Até então, a tendência original, a técnica portuguesa, era muito empírica, baseada na maneira prática, e sempre esteve muito dissociada do que se fazia na academia.
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O Derby enterrou o legado português?
— Ele tentou romper com a forma empírica de achar minérios. Queria acabar com aquela história de usar uma varinha que vibra para achar água, como se faz até hoje no Nordeste. Tentou impor um método científico. Não teve muito sucesso, mas o foi o início de tudo. O mérito dele é esse. Ele se suicidou em 1915 e o Serviço Geológico passou a ter um novo diretor, Euzébio Paulo de Oliveira. Esse conseguiu impor o método científico. Para fazer isso, teve de fazer um mapa geológico do país. O mapa tem informação da rocha, mas para obter uma indicação da sua idade é preciso dos fósseis. Assim, os fósseis passaram a ser um item fundamental dentro do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil. Na década de 1930 estávamos tentando resolver problemas geológicos. Esses terrenos são do Cretáceo ou do Terciário? Têm fósseis? Tinham. Mas ninguém sabia identificá-los. A maioria dos livros sobre paleontologia era escrita por franceses, ingleses, alemães, norte-americanos. E tratavam de faunas e floras do hemisfério Norte. Não era possível identificar os fósseis daqui, salvo algumas coisas. Era preciso criar uma ciência paleontológica. A solução foi pegar os lotes de fósseis e mandar para um especialista no assunto do exterior. E se pagava pela identificação do material. Essa foi a primeira solução para os fósseis brasileiros. Esse esquema continuou assim até mais ou menos o fim da década de 1930. Em 1937 houve a expedição da Universidade Harvard para a América do Sul, na qual os pesquisadores entram no Brasil para coletar fósseis. Dessa expedição faziam parte o Theodor White e Llewellyn Ivor Price, um gaúcho nascido há exatos cem anos em Santa Maria, mas que estudou e pesquisava nos Estados Unidos.
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Como foi essa expedição? Foi nela que o Price encontrou no sul do país um dos mais antigos dinossauros do mundo, de cerca de 230 milhões de anos?
— Eles acharam esse dinossauro, o Staurikosaurus pricei, e deram o nome da espécie em homenagem ao Price. Foi uma expedição para estudo do período Triássico, que no Brasil só existe no Rio Grande do Sul. Mas, naquela época, os pesquisadores não se preocupavam muito com dinossauros. O maior interesse era por vertebrados, de preferência os répteis, que são parecidos com os mamíferos. A preocupação era tentar resolver o problema da origem do homem. Tentar descobrir esse grupo de répteis, os sinapsídeos, que hoje são quase colocados como uma classe à parte. A expedição teve alguns aspectos notáveis. Já era, por exemplo, preciso pedir licença ao Estado para fazer uma expedição. Isso foi feito e a documentação está guardada, toda, no arquivo do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) que está no Museu de Astronomia e Ciências Afins, no Rio de Janeiro.
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Se já era preciso da autorização, por que o Staurikosaurus foi para Harvard?
— Esse exemplar saiu daqui com todas as autorizações. A política de mandar fósseis para fora estava no fim, mas ainda não tinha acabado. A essa altura, a Universidade de São Paulo (USP), que é de 1934, já estava preocupada em formar paleontólogos. Havia o Josué Camargo Mendes, que escreveu livros didáticos sobre paleontologia. Ele tinha feito estágio no DNPM, veio para cá várias vezes. Nesse meio tempo, o DNPM constituiu uma seção de paleontologia. Quando o Price voltou em definitivo para o Brasil, além do grupo da USP, já havia um núcleo de paleontologia incipiente no Museu Nacional. E ele chegou e começou a formar o pessoal daqui. O passo seguinte, importante, foi a necessidade de encontrar petróleo no Brasil. Mais uma vez um problema energético, agora o petróleo em vez do carvão, provoca e estimula a paleontologia. Daí a necessidade de ter cursos de geologia, dos quais a paleontologia é uma das cadeiras. A partir de 1960 surgem as escolas de geologia , todas com um departamento de estratigrafia e paleontologia. Quando entrei aqui no DNPM, em 1968, ele tinha 13 paleontólogos. Desses, cinco eram pesquisadores conferencistas, o título na época mais alto do CNPq, e todos eram da Academia Brasileira de Ciências. Nessa época havia paleontólogos também no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e um grupo pequeno em Recife. Na Bahia, minha alma mater, não tinha paleontologia, salvo na Petrobras. Tinha que aprender tudo sozinho. Quando vim para cá, disse “é aqui mesmo que eu fico”. E virei carioca nesse aspecto, embora continue falando que nem baiano.
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Há poucos fósseis no Brasil ou pouca gente fazendo pesquisa?
— Alguns paleontólogos gostam de dizer que o Brasil tem poucos fósseis. Dizem isso comparando com Mongólia, Argentina, Estados Unidos, áreas que têm desertos e a preservação dos fósseis é melhor. Num país tropical os fósseis se estragam, intemperizam. Mas diria que no Brasil há muitos fósseis, só dá mais trabalho achá-los. Olhando um mapa geológico da América do Sul, vê-se que na Argentina e nos Andes há terrenos muito novos, fossilíferos. Mas mesmo assim se encontra muita coisa em rochas antigas. O Brasil está cheio de fósseis na bacia do Paraná, no Maranhão, no Piauí e em boa parte do Nordeste. E na Amazônia, naturalmente. Em alguns lugares do país tem menos. Precisamos de mais projetos que envolvam coletas de fósseis. Há muito projeto estudando fósseis já engavetados. Brinco que o pessoal está fazendo pesquisa em gaveta.
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Mas não há muito fóssil engavetado que precisa ser estudado?
— Sim. Isso é importante. Mas é preciso também coletar, uma tarefa muito complicada e que envolve uma ética. Não se pode coletar por coletar, indiscriminadamente. Deve haver critério. Às vezes, a coleta é uma operação de salvamento. Alguém vai construir uma represa num lugar e a gente faz uma coleta no local para salvar o que existe de fósseis ali.
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Então os paleontólogos ficam torcendo para que haja muitas obras para eles terem onde coletar?
— É preciso acompanhar a construção de tudo, de estádios, poços, estradas, ferrovias e coletar o que for possível. Se deixarmos o tempo passar, começa o intemperismo e a vegetação cobre os afloramentos e os fósseis desaparecem. Pela sua dimensão, o Brasil ainda vai dar muito fóssil. Em Sergipe, por exemplo, encontram-se fósseis na abertura de qualquer estrada nova na parte da praia, próxima ao litoral. Saíram fósseis da grande construção de todas aquelas estradas no oeste de São Paulo.
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Por que as pessoas se interessam tanto por história natural, em especial fósseis de animais?
— Há uma curiosidade muito grande por essas exposições. Talvez porque haja uma participação de outras áreas do conhecimento, até artísticas, ao lado do trabalho paleontológico. Para fazer uma reconstituição de um dinossauro ou de um peixe fóssil, entra um pouco de... fingimento, de representação.
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A representação artística de um bicho do passado é uma recriação, não quer dizer que ele era realmente assim.
— O paleontólogo pode ficar satisfeitíssimo com a reconstituição. Ele orientou a confecção daquele bicho, que foi feito com todo o rigor científico, com uma verossimilhança perfeita. Mas, na verdade, não é bem assim. Se pedirmos para outro paleontólogo orientar a feitura de uma reconstituição, ele vai mudar uma cor aqui, outra ali. Essa é a verdade. Mas sou a favor do uso dos fósseis como um item de educação para a ciência e difusão do conhecimento em espaços informais, como museus. Esse é um filão a ser explorado.
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Por que os dinossauros se tornaram um ícone da paleontologia, ofuscando os fósseis de outros animais e das plantas?
— O interesse mais recente por esses animais começou a partir de um livro do paleontólogo americano Robert Bakker Heresias sobre dinossauros (publicado pela primeira vez nos anos 1960). Antes disso não havia tanta ênfase nos dinossauros, que eram animais grandes, lerdos e completamente desprezados. Achava-se até que alguns dinossauros precisavam de dois cérebros, um para mover a parte anterior do corpo e outro para mover a cauda. Depois do Bakker, uma série de pesquisadores nos Estados Unidos continuaram a coletar fósseis e aceitar alunos para estudá-los. O lançamento de filmes como Parque dos dinossauros também aumentou muito o interesse por esses bichos. Mas o pioneiro mesmo em destacar os dinossauros foi o autor do Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle. Em um de seus livros, tem um conto – O mundo perdido – em que ele fala de um vale na Amazônia e há pterossauros voando pelo Atlântico.
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O Brasil tem uma contribuição a dar à paleontologia mundial, ou sua relevância é mais local ou regional?
— A contribuição é grande. A gente contribui com informações para a parte de Gondwana e temos dados que muitas vezes são endêmicos, próprias da América do Sul. Há também esse ponto sensacional que são os pterossauros que eu e o Alex Kellner descrevemos da chapada do Araripe e demos nomes brasileiros, o Anhangüera e o Tapejara. O mais interessante é que esses pterossauros foram agora encontrados na China. Em maio passado estive lá para ver esse material. Constatei que são os mesmos pterossauros, não da mesma espécie, mas do mesmo gênero. Agora, em maio, estou indo de novo para a China a convite deles. Então você tem assim um ponto de contato entre o Araripe e a China.
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Como assim?
— Eles têm um depósito na província de Liaoning que para a gente é a antiga Mandchúria. É um lugar sensacional, com sedimentos muito parecidos com os que temos no Nordeste do Brasil. Há fossas profundas, como a bacia do Recôncavo, com quase 5 quilômetros de profundidade, cheias de sedimentos e ricas em fósseis. Quando voltei da China, no avião, disse ao Kellner: “Andei tanto pela Bahia e quebrei tão pouca pedra. Preciso voltar lá para quebrar mais pedra”. A gente tem que encontrar o que os chineses encontraram. Na China, eles têm peixes; nós também. Nós temos ostracóide (espécie de crustáceo), insetos, pterossauros; eles também. Eles têm muitos dinossauros, a gente tem três ou quatro. Eles têm dinossauros normais e os dinossauros com penas, aves e mamíferos. No Araripe ainda não achamos mamíferos. É possível que apareça um mamífero ali a qualquer momento. Não é incompatível com a região: a gente está na passagem do Cretáceo inferior para o superior. Pode aparecer um bichinho de pêlo ali a qualquer momento. Então, eu me sinto na obrigação de procurar. É engraçado em campo na China, eu me sentia na Bahia. Dizia: “Estou na Bahia, essa camada, esse basalto, eu já vi antes”.
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Lá na China o senhor dizia isso?
— Na China, na Mandchuria. Há muitos fósseis ali e ainda vai aparecer muita coisa interessante, isso sem mencionar o que existe na Mongólia interior, nos desertos que eles têm no oeste do país. Em 1996, da vez anterior em que eu estive lá, o pessoal do instituto de paleontologia de vertebrados e paleoantropologia da Academia Chinesa de Ciências estava ganhando US$ 200 por mês. Havia pouca gente e muitas dificuldades. Mas, de lá para cá, eles cresceram muito na área. Mandaram muitos pesquisadores para a Europa, Estados Unidos, e aumentaram o intercâmbio com o exterior. Agora mesmo estão mandando dois pesquisadores para cá e nós acabamos de ir para lá. Acho que até duplicaram o salário dos pesquisadores. Para nós, o salário é baixo, mas lá eles têm casa e comida. E têm dinheiro para pesquisa. Todos eles estão com computador de último tipo na frente deles, com scanner, e boas máquinas digitais. Todos estão trabalhando, e muito, publicando no exterior. As revistas estão babando, correndo atrás deles.
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Nós não poderíamos imitar os chineses?
— Eu não sei qual é o fascínio que a China tem. Nunca um editor da Nature ou da Science veio para cá pedir para a gente fazer artigo para eles. Isso eu vi lá na China. Até assisti a uma palestra de um editor, cuja base é nas Filipinas, em que ele dizia o seguinte: “Vocês preparem os artigos que nós temos interesse em publicar”. Para mim, a China – e essa é uma opinião puramente minha, de leigo – já deu um passo na frente da gente em ciência. Vai ser difícil alcançá-los. A gente pensava em surgir como parceiro da China, mas vai ser difícil. Eles já estão um pouco na frente. A massa crítica envolvida em pesquisa lá é enorme.
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Qual o impacto do contrabando na paleontologia nacional?
— O problema é real, em especial no Araripe, e temos de enfrentá-lo. A legislação brasileira não permite a comercialização de fósseis. Para fazer uma escavação, se você não pertence a uma instituição de pesquisa, é preciso uma autorização do DNPM. Eu, de certa forma, influencio a política interna do órgão. E a política nossa é a seguinte: não damos a autorização para ninguém que tenha fins comerciais.
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Quem sustenta o contrabando de fósseis, os colecionadores ou os museus de universidades do exterior?
— São as coleções de particulares. Hoje está na moda comprar os fósseis de insetos. Os museus sérios não compram, respeitam os acordos com o Brasil. Mas essa nem sempre é a posição dos Estados Unidos e da Inglaterra. O que me consola um pouco é que, mais cedo ou mais tarde, o material contrabandeado, se for realmente importante, vai ser descrito por um pesquisador. Lamento muito que isso acabe ocorrendo lá fora. Mas uma coisa ficou clara para mim nesses anos todos: quando há competência brasileira na área da paleontologia, dificilmente se perde um fóssil importante para o exterior. Veja o caso do Alex Kellner com os pterossauros: ele é muito ativo, corre atrás, dificilmente alguém vai fazer qualquer coisa lá fora com material daqui do Araripe. Os chineses sofrem com o mesmo tipo de problema. Mesmo lá, com todo o regime chinês, eles não conseguem controlar a saída de material.
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Mas o Kellner e o senhor mesmo tiveram problema, há alguns anos, com um pesquisador inglês, David Martill, da Universidade de Portsmouth, que publicou um artigo sobre um fóssil de dinossauro do Araripe contrabandeado que era igual ou semelhante a um que vocês estavam estudando. Na época houve a suspeita de que o fóssil do inglês era um pedaço da peça estudada por vocês.
— A mesma peça não era. Era outra provavelmente contrabandeada. O que se pode fazer nesses casos? Temos de educar as populações locais para fazer concorrência ao contrabando. Temos de usar a Universidade Regional do Cariri como um pólo de atração; fizemos diferentes audiências públicas com a procuradoria de meio ambiente, para conscientizar autoridades e população. E também promover ações da Polícia Federal. Mas essas ações, para mim, são as que resolvem menos. Termina chamando mais a atenção sobre o assunto do que resolvendo o problema.
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Mas a prisão de algumas pessoas por contrabando não mostra que a lei está sendo cumprida?
— Claro, prisões como a do contrabandista alemão Michel Schuwickert no Ceará em 2002 são ações importantes. Mas prender o lavrador do campo porque ganha algum dinheiro com o comércio de fósseis não tem sentido. Na época de seca, muitas vezes, o fóssil é uma garantia de ter um quilo de feijão ou de arroz na mesa do lavrador.
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Qual é a sua posição pessoal sobre essa questão da venda de fósseis?
— Nunca comprei nada. Nem estimulo ninguém a comprar. Mas acho que o lavrador poderia ser alvo de uma troca, de um trabalho de convencimento por parte das universidades. Sempre procurei trabalhar a educação dessas pessoas. Elas poderiam receber livros, palestras. Também é preciso fazer museus nos locais onde ocorrem os fósseis. Assim, o morador pode ter ali, exposta, a peça coletada por ele, com o nome dele. Isso conta muito nas comunidades. Enfim, há uma série de coisas que podem ser feitas. Simplesmente prender o lavrador não resolve. Se não se fizer isso, o cara esconde os fósseis da gente e, depois, troca, vende, faz qualquer negócio com o primeiro paulista que aparecer.
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Só os paulistas compram os fósseis?
— Não precisa ser paulista. No Nordeste, na Amazônia, qualquer pessoa que venha do Sul é, para eles, “paulista”. E, se tiver com dinheiro, é mais paulista ainda. Se tiver nome italiano então, é paulista mesmo. O contrabando é um assunto extremamente desagradável para mim. Mas, hoje, há no máximo um ou dois exemplares de fósseis de interesse para a ciência fora de museus, ainda que no exterior. Depois de algum tempo, o colecionador particular acaba passando a peça para o museu. Alguns pesquisadores da Alemanha e Japão estão tentando fazer um acordo com a gente para que pesquisadores brasileiros estudem junto fósseis que foram contrabandeados para lá.
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Mas, em 1998, um pesquisador japonês publicou na Nature artigo sobre um fóssil de tartaruga marinha de 110 milhões de anos, que seria a mais antiga do planeta. Era um exemplar do Araripe. Era contrabando?
— Sem dúvida. Quando o pesquisador não fala como conseguiu o fóssil, é porque ele não tem como dizer que comprou de uma forma ilegal. Existem quatro tartarugas do Araripe descritas, três delas envolvem pesquisadores brasileiros. Só essa que não. Eu conversei com o japonês tempos depois e ele não sabia de nada.
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Como o senhor reage diante de um artigo escrito por estrangeiros a partir de um fóssil brasileiro contrabandeado?
— É a coisa mais frustrante que existe. Apesar dos esforços, a gente não consegue cobrir tudo. Esse alemão (do contrabando), por exemplo, eu queria metê-lo na cadeia e jogar a chave fora. Ele argumenta que nunca pegou num fóssil. “As pessoas coletam uma peça para mim, me dão de presente e eu aceito”, ele costuma dizer.
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Para os fósseis saírem do Brasil não é preciso um esquema que corrompa um certo de número de pessoas?
— Se as peças justificam o investimento de um estrangeiro se deslocar para cá, eles fazem de tudo. Dão gorjetas, propinas, pagam pelo trabalho de um lavrador para procurar fósseis. E dão mais propina pelos exemplares encontrados. Essas atividades se passam até nos aeroportos, embora haja ação permanente da Polícia Federal.
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Quanto pode valer lá fora um fóssil de uma espécie rara ou nova para a ciência?
— Falam em milhares dólares, dependendo da peça. Mas isso é uma exceção. Há muita venda de lotes de fósseis para ornamentação, de grandes quantidades de bichos e insetos. Como não custou quase nada obter os fósseis, qualquer valor para essas peças ornamentais é lucro. Esse comércio, embora envolva peças sem novidades é muito prejudicial para a ciência, principalmente na área dos insetos, em que há muita coisa interessante no Araripe. Não gosto de dar valor monetário para os fósseis porque qualquer valor que eu dê passa a servir de referência. Nos lugares em que escavo no Araripe não sobra resto algum de fósseis no dia seguinte. O que tinha sobrado, mesmo sem importância, alguém pega. Eles acham que, se Dr. Diógenes coletou fóssil ali, então o lugar é bom.
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O Araripe é realmente importante para a paleontologia mundial?
— Ali é tudo da fase final do Cretáceo inferior. Além de ter uma grande fauna de vertebrados, o Araripe tem uma flora muito importante, provavelmente com as primeiras plantas com flores do planeta. A Mary Elizabeth Bernardes de Oliveira, da Universidade de São Paulo, está estudando essa questão. Ali houve as primeiras florestas com flores, que vão mais tarde abrigar os mamíferos e as aves. É essa floresta que vai moldar toda a vida humana na Terra durante os últimos 65 milhões de anos e que vai permitir o aparecimento dos primatas e, conseqüentemente, do homem. São as plantas que preparam o ambiente para depois surgirem os animais que vão estar adaptados a ele.
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Em dezembro, o ministro da Ciência e Tecnologia lançou em Uberaba o projeto de uma rede nacional de pesquisas em paleontologia, com orçamento previsto de cerca de R$ 6 milhões. Mas parece que poucos paleontólogos nacionais tinham conhecimento da iniciativa. É verdade que o senhor está à frente da rede?
— Estou numa situação pouco confortável. Foi feito um grande projeto em cima de um projeto meu, que tinha um determinado objetivo e era bem menor. De repente, me jogaram R$ 6 milhões em cima da mesa. No meu projeto original, queria fazer uma brinquedoteca, uma biblioteca, uma oficina dos dinossauros, um espaço lúdico, ao lado do museu de paleontologia que já existe em Peirópolis, no município de Uberaba. Mas lideranças políticas devem ter achado que era pouco e o meu projeto voltou ampliado, com uma rede por cima. Vamos ter de fazer correções nisso. Todos os pesquisadores vão ser ouvidos. Eu já disse isso para eles. O pessoal do Rio Grande do Sul, que foi excluído da rede, vai ser incluído novamente. Se não for assim, caio fora.
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Saiu num jornal de São Paulo que um deputado havia conseguido o dinheiro para a rede, para Minas?
— É verdade. Foi o deputado Nárcio Rodrigues, do PSDB de Minas Gerais. Mas quero que seja constituído um conselho científico para a rede e esse conselho vai decidir quem vai receber dinheiro para pesquisa. Ninguém vai dar dinheiro para ninguém sem haver julgamento entre os pares, sem ter projeto científico. Não abro mão disso.
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Mas quem coordena a rede?
— Quem está coordenando a parte financeira da rede é a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais. E eles me pediram para coordenar a parte científica da rede. Vou dar continuidade ao trabalho iniciado em 1986, de parceria do DNPM e a Prefeitura Municipal de Uberaba. Vou trabalhar com Beethoven Teixeira para que venhamos a ter em Peirópolis um centro de referência para dinossauros, em particular, e para fósseis brasileiros, no geral. Em Minas não há a massa crítica de paleontólogos para tocar a rede. Gente de outros estados têm de entrar na rede.
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"Pedras e ossos do ofício"
Entrevista com Diógenes de Almeida Campos, a Marcos Pivetta.
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Publicada no site da:
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http://www.universiabrasil.net/
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(Texto gerado automaticamente pela aplicação CVLattes)Diógenes Campos possui graduação em Escola de Geologia pela Universidade Federal da Bahia (1967) e mestrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1978) . Atualmente é Geólogo do Departamento Nacional de Produção Mineral, Chefe do Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral, COORDENADOR DE PROGRAMA da Academia Brasileira de Ciências, MEMBRO EDITORIAL DE REVISTA CIENTIFICA da Academia Brasileira de Ciências, Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, PESQUISADOR ASSOCIADO da American Museum Of Natural History, PROFESSOR CONVIDADO da Universidade Federal do Rio de Janeiro, SECRET. E PRESIDENTE da Sociedade Brasileira de Paleontologia, da Universidade Regional do Cariri, Membro Titular da Academia de Ciências da America Latina e Membro da Comissão Externa de Lexicografia da Academia Brasileira de Letras. Tem experiência na área de Geociências , com ênfase em Geologia. Atuando principalmente nos seguintes temas: Paleontologia de Vertebrados, Sistematica, Répteis.
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A matéria e a entrevista:
"Paleontólogo fala da pesquisa nacional, critica o contrabando de fósseis e diz que o Araripe pode ser o berço das plantas com flores"
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Baiano de Irará que fez carreira no Rio de Janeiro desde fins dos anos 1960, Diógenes de Almeida Campos é um dos pilares da paleontologia nacional. Apesar de estar à frente do Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), que fica num belo e antigo prédio na Praia Vermelha, diz que seu lado burocrata é o que tem de mais fraco. “Sou uma negação como administrador”, afirma, modesto. Curte mesmo é ir a campo para procurar seus fósseis de dinossauros, pterossauros e outros vertebrados. Aos 61 anos, muito ativo, publica com freqüência trabalhos de impacto sobre répteis do período Cretáceo, que viveram entre 144 milhões e 65 milhões de anos atrás, muitos deles oriundos da Chapada do Araripe, situada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.
Gosta de dar nomes brasileiríssimos, de origem indígena, às novas espécies que descreve, como os pterossauros Tapejara imperator e Anhangüera blittersdorff, ambos descritos a quatro mãos com um ex-aluno de doutorado, Alex Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que se tornou um de seus mais próximos parceiros de descobertas. Nesta entrevista Campos fala da história da paleontologia nacional, de seus pontos fortes e fracos, das semelhanças da paisagem geológica nordestina e da China. O contrabando de fósseis brasileiros também é abordado. “O problema é real, em especial no Araripe, e a gente tem de enfrentá-lo”, reconhece. O pesquisador também esclarece como deve funcionar a rede nacional de paleontologia, criada aparentemente de supetão no fim do ano passado.
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Quando começa a paleontologia no Brasil?
— O objeto da paleontologia são os fósseis. Foi preciso encontrar fósseis para haver uma paleontologia brasileira. A data mais antiga é qualquer coisa em torno do final do século 17, princípio do 18, quando teriam sido encontrados ossos de mamíferos em cacimbas na Bahia, como se encontra ainda hoje no estado. Existe um livrinho, Notícias soteropolitanas, que foi escrito por um professor de lingua grega de Salvador, Luís dos Santos Vilhena. O autor fingia ter um amigo em Portugal e escrevia cartas. Ele criou a palavra “soteropolitano” para dizer que é “o natural de Salvador”. “Sotér”, em grego, é salvador; “pólis”, cidade. Então, era “notícias da cidade do Salvador”. E ele fala de um encontro no sertão dos tocós – tocós são os índios – em torno da cidade de Serrinha. Mas isso se perdeu completamente. O primeiro encontro de fósseis comprovado, documentado, é o material citado pelo barão de Eschewege, que foi um coronel do Exército português que veio com d. João VI para cá. O coronel encontrou o material em Minas Gerais, e registra essa ocorrência. Eram mamíferos fósseis do Pleistoceno (entre 1,8 milhão e 11 mil anos atrás), como os da Bahia. Mas o verdadeiro achado que a gente toma sempre como o início da paleontologia nacional é o desenho da cabeça de um peixe da chapada do Araripe, junto com ossos de mamíferos da Bahia, que saiu nos livros publicados pelo zoólogo [Johann Baptiste von] Spix e pelo botânico [Carl Friedrich Phillipp von] Martius entre 1823 e 1831. Eram dois cientistas da Bavária, naturalistas viajantes, que vieram ao Brasil e realizaram uma longa viagem de 1817 a 1820. Vieram na comitiva da princesa Leopoldina, que se casava com o príncipe d. Pedro. A gente brinca que isso já dá um samba de saída. Porque tem rei, tem princesa. Eles não passaram exatamente pela chapada, mas receberam de presente em Oeiras, Piauí, esses fósseis. Foi a primeira ilustração de um fóssil brasileiro que foi divulgado para o mundo. Era realmente um material fóssil de primeira. O ponto importante da descoberta é que, quando o desenho foi publicado, o Brasil já era Brasil.
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Foto fonte: http://www.dnpm.gov.br
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No Império, d. Pedro II estimulou a pesquisa geológica?
— Ele se interessava por isso e criou a Comissão Geológica do Império (em 1875). Antes disso houve as expedições Thayer (1865) e Morgan (1870). Essa última foi financiada pelo JP Morgan, estudou o litoral nordeste do Brasil e fora liderada por Charles Frederic Hartt, canadense que era professor de geologia na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Já havia também a influência do Museu Nacional, que ainda não tinha sido transferido para a Quinta da Boa Vista, mas já tinha um papel importante, com um corpo de estudiosos, coleções, e era aberto a visitantes. Hartt trouxe o Orville A. Derby, que era um geólogo americano, e os dois juntos produziram uma obra bastante expressiva. Posteriormente Derby trabalhou em São Paulo, na Comissão Geológica e Geográfica do Estado de São Paulo, iniciou o mapeamento topográfico de São Paulo, porque não entendia como se podia fazer geologia sem fazer topografia. Isso foi demorado, gastava dinheiro, e ele foi bastante criticado. Hartt e Derby eram coletores de fósseis. Fizeram um trabalho excepcional. Viajavam, coletavam e mandavam os fósseis lá para fora.
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A proclamação da República mudou muito esse quadro?
— Em 1905 o Brasil começou a enfrentar o problema energético. E o problema energético tinha de ser resolvido com o carvão brasileiro. Mas o carvão brasileiro, cujas jazidas ficavam no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, tinha alto teor de cinza, às vezes chegava a 23%, e alto teor de enxofre, o que atrapalhava a sua queima Na verdade, não era um carvão muito bom. E havia outro agravante: as máquinas da estrada de ferro, e outras que vinham para cá, eram feitas na Inglaterra para queimar carvão Cardiff, muito bom. Essas máquinas não se adaptaram a queimar o carvão de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Para resolver o problema, optou-se então pela maneira mais simples: tentar encontrar no Brasil carvão de melhor qualidade. Os ingleses tinham feito isso na África do Sul. Foi isso que fez aparecer os fósseis no Brasil. O estudo de fósseis ligados ao carvão, principalmente vinculados à botânica, começou a se desenvolver. E mais: o estudo dessas minas de carvão, que teve início em Alagoas, na Bahia, e terminou no Sul, promoveu um levantamento geológico do Brasil todo e foi motivo de um relatório chamado “Relatório da Comissão das Minas do Carvão”, publicado em 1905 por um geólogo chamado Israel C. White. Esse é o Relatório White do Carvão. Esse relatório obrigou o governo federal a criar um órgão que se preocupasse com as minas do Brasil; não no sentido de dar concessão, como até hoje se faz, a concessão era feita, então um órgão qualquer, uma secretaria qualquer do ministério dava essa concessão. Mas para que estudasse, selecionasse as áreas para ajudar os mineradores a encontrar carvão e outros minerais. Então foi criado o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, em 1907. E o Derby é convidado para ser o primeiro diretor. Ele foi diretor de 1907 a 1915, imprimiu essa idéia de que era preciso fazer pesquisa científica para achar minério. Até então, a tendência original, a técnica portuguesa, era muito empírica, baseada na maneira prática, e sempre esteve muito dissociada do que se fazia na academia.
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O Derby enterrou o legado português?
— Ele tentou romper com a forma empírica de achar minérios. Queria acabar com aquela história de usar uma varinha que vibra para achar água, como se faz até hoje no Nordeste. Tentou impor um método científico. Não teve muito sucesso, mas o foi o início de tudo. O mérito dele é esse. Ele se suicidou em 1915 e o Serviço Geológico passou a ter um novo diretor, Euzébio Paulo de Oliveira. Esse conseguiu impor o método científico. Para fazer isso, teve de fazer um mapa geológico do país. O mapa tem informação da rocha, mas para obter uma indicação da sua idade é preciso dos fósseis. Assim, os fósseis passaram a ser um item fundamental dentro do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil. Na década de 1930 estávamos tentando resolver problemas geológicos. Esses terrenos são do Cretáceo ou do Terciário? Têm fósseis? Tinham. Mas ninguém sabia identificá-los. A maioria dos livros sobre paleontologia era escrita por franceses, ingleses, alemães, norte-americanos. E tratavam de faunas e floras do hemisfério Norte. Não era possível identificar os fósseis daqui, salvo algumas coisas. Era preciso criar uma ciência paleontológica. A solução foi pegar os lotes de fósseis e mandar para um especialista no assunto do exterior. E se pagava pela identificação do material. Essa foi a primeira solução para os fósseis brasileiros. Esse esquema continuou assim até mais ou menos o fim da década de 1930. Em 1937 houve a expedição da Universidade Harvard para a América do Sul, na qual os pesquisadores entram no Brasil para coletar fósseis. Dessa expedição faziam parte o Theodor White e Llewellyn Ivor Price, um gaúcho nascido há exatos cem anos em Santa Maria, mas que estudou e pesquisava nos Estados Unidos.
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Como foi essa expedição? Foi nela que o Price encontrou no sul do país um dos mais antigos dinossauros do mundo, de cerca de 230 milhões de anos?
— Eles acharam esse dinossauro, o Staurikosaurus pricei, e deram o nome da espécie em homenagem ao Price. Foi uma expedição para estudo do período Triássico, que no Brasil só existe no Rio Grande do Sul. Mas, naquela época, os pesquisadores não se preocupavam muito com dinossauros. O maior interesse era por vertebrados, de preferência os répteis, que são parecidos com os mamíferos. A preocupação era tentar resolver o problema da origem do homem. Tentar descobrir esse grupo de répteis, os sinapsídeos, que hoje são quase colocados como uma classe à parte. A expedição teve alguns aspectos notáveis. Já era, por exemplo, preciso pedir licença ao Estado para fazer uma expedição. Isso foi feito e a documentação está guardada, toda, no arquivo do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) que está no Museu de Astronomia e Ciências Afins, no Rio de Janeiro.
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Se já era preciso da autorização, por que o Staurikosaurus foi para Harvard?
— Esse exemplar saiu daqui com todas as autorizações. A política de mandar fósseis para fora estava no fim, mas ainda não tinha acabado. A essa altura, a Universidade de São Paulo (USP), que é de 1934, já estava preocupada em formar paleontólogos. Havia o Josué Camargo Mendes, que escreveu livros didáticos sobre paleontologia. Ele tinha feito estágio no DNPM, veio para cá várias vezes. Nesse meio tempo, o DNPM constituiu uma seção de paleontologia. Quando o Price voltou em definitivo para o Brasil, além do grupo da USP, já havia um núcleo de paleontologia incipiente no Museu Nacional. E ele chegou e começou a formar o pessoal daqui. O passo seguinte, importante, foi a necessidade de encontrar petróleo no Brasil. Mais uma vez um problema energético, agora o petróleo em vez do carvão, provoca e estimula a paleontologia. Daí a necessidade de ter cursos de geologia, dos quais a paleontologia é uma das cadeiras. A partir de 1960 surgem as escolas de geologia , todas com um departamento de estratigrafia e paleontologia. Quando entrei aqui no DNPM, em 1968, ele tinha 13 paleontólogos. Desses, cinco eram pesquisadores conferencistas, o título na época mais alto do CNPq, e todos eram da Academia Brasileira de Ciências. Nessa época havia paleontólogos também no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e um grupo pequeno em Recife. Na Bahia, minha alma mater, não tinha paleontologia, salvo na Petrobras. Tinha que aprender tudo sozinho. Quando vim para cá, disse “é aqui mesmo que eu fico”. E virei carioca nesse aspecto, embora continue falando que nem baiano.
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Há poucos fósseis no Brasil ou pouca gente fazendo pesquisa?
— Alguns paleontólogos gostam de dizer que o Brasil tem poucos fósseis. Dizem isso comparando com Mongólia, Argentina, Estados Unidos, áreas que têm desertos e a preservação dos fósseis é melhor. Num país tropical os fósseis se estragam, intemperizam. Mas diria que no Brasil há muitos fósseis, só dá mais trabalho achá-los. Olhando um mapa geológico da América do Sul, vê-se que na Argentina e nos Andes há terrenos muito novos, fossilíferos. Mas mesmo assim se encontra muita coisa em rochas antigas. O Brasil está cheio de fósseis na bacia do Paraná, no Maranhão, no Piauí e em boa parte do Nordeste. E na Amazônia, naturalmente. Em alguns lugares do país tem menos. Precisamos de mais projetos que envolvam coletas de fósseis. Há muito projeto estudando fósseis já engavetados. Brinco que o pessoal está fazendo pesquisa em gaveta.
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Mas não há muito fóssil engavetado que precisa ser estudado?
— Sim. Isso é importante. Mas é preciso também coletar, uma tarefa muito complicada e que envolve uma ética. Não se pode coletar por coletar, indiscriminadamente. Deve haver critério. Às vezes, a coleta é uma operação de salvamento. Alguém vai construir uma represa num lugar e a gente faz uma coleta no local para salvar o que existe de fósseis ali.
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Então os paleontólogos ficam torcendo para que haja muitas obras para eles terem onde coletar?
— É preciso acompanhar a construção de tudo, de estádios, poços, estradas, ferrovias e coletar o que for possível. Se deixarmos o tempo passar, começa o intemperismo e a vegetação cobre os afloramentos e os fósseis desaparecem. Pela sua dimensão, o Brasil ainda vai dar muito fóssil. Em Sergipe, por exemplo, encontram-se fósseis na abertura de qualquer estrada nova na parte da praia, próxima ao litoral. Saíram fósseis da grande construção de todas aquelas estradas no oeste de São Paulo.
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Por que as pessoas se interessam tanto por história natural, em especial fósseis de animais?
— Há uma curiosidade muito grande por essas exposições. Talvez porque haja uma participação de outras áreas do conhecimento, até artísticas, ao lado do trabalho paleontológico. Para fazer uma reconstituição de um dinossauro ou de um peixe fóssil, entra um pouco de... fingimento, de representação.
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A representação artística de um bicho do passado é uma recriação, não quer dizer que ele era realmente assim.
— O paleontólogo pode ficar satisfeitíssimo com a reconstituição. Ele orientou a confecção daquele bicho, que foi feito com todo o rigor científico, com uma verossimilhança perfeita. Mas, na verdade, não é bem assim. Se pedirmos para outro paleontólogo orientar a feitura de uma reconstituição, ele vai mudar uma cor aqui, outra ali. Essa é a verdade. Mas sou a favor do uso dos fósseis como um item de educação para a ciência e difusão do conhecimento em espaços informais, como museus. Esse é um filão a ser explorado.
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Por que os dinossauros se tornaram um ícone da paleontologia, ofuscando os fósseis de outros animais e das plantas?
— O interesse mais recente por esses animais começou a partir de um livro do paleontólogo americano Robert Bakker Heresias sobre dinossauros (publicado pela primeira vez nos anos 1960). Antes disso não havia tanta ênfase nos dinossauros, que eram animais grandes, lerdos e completamente desprezados. Achava-se até que alguns dinossauros precisavam de dois cérebros, um para mover a parte anterior do corpo e outro para mover a cauda. Depois do Bakker, uma série de pesquisadores nos Estados Unidos continuaram a coletar fósseis e aceitar alunos para estudá-los. O lançamento de filmes como Parque dos dinossauros também aumentou muito o interesse por esses bichos. Mas o pioneiro mesmo em destacar os dinossauros foi o autor do Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle. Em um de seus livros, tem um conto – O mundo perdido – em que ele fala de um vale na Amazônia e há pterossauros voando pelo Atlântico.
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O Brasil tem uma contribuição a dar à paleontologia mundial, ou sua relevância é mais local ou regional?
— A contribuição é grande. A gente contribui com informações para a parte de Gondwana e temos dados que muitas vezes são endêmicos, próprias da América do Sul. Há também esse ponto sensacional que são os pterossauros que eu e o Alex Kellner descrevemos da chapada do Araripe e demos nomes brasileiros, o Anhangüera e o Tapejara. O mais interessante é que esses pterossauros foram agora encontrados na China. Em maio passado estive lá para ver esse material. Constatei que são os mesmos pterossauros, não da mesma espécie, mas do mesmo gênero. Agora, em maio, estou indo de novo para a China a convite deles. Então você tem assim um ponto de contato entre o Araripe e a China.
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Como assim?
— Eles têm um depósito na província de Liaoning que para a gente é a antiga Mandchúria. É um lugar sensacional, com sedimentos muito parecidos com os que temos no Nordeste do Brasil. Há fossas profundas, como a bacia do Recôncavo, com quase 5 quilômetros de profundidade, cheias de sedimentos e ricas em fósseis. Quando voltei da China, no avião, disse ao Kellner: “Andei tanto pela Bahia e quebrei tão pouca pedra. Preciso voltar lá para quebrar mais pedra”. A gente tem que encontrar o que os chineses encontraram. Na China, eles têm peixes; nós também. Nós temos ostracóide (espécie de crustáceo), insetos, pterossauros; eles também. Eles têm muitos dinossauros, a gente tem três ou quatro. Eles têm dinossauros normais e os dinossauros com penas, aves e mamíferos. No Araripe ainda não achamos mamíferos. É possível que apareça um mamífero ali a qualquer momento. Não é incompatível com a região: a gente está na passagem do Cretáceo inferior para o superior. Pode aparecer um bichinho de pêlo ali a qualquer momento. Então, eu me sinto na obrigação de procurar. É engraçado em campo na China, eu me sentia na Bahia. Dizia: “Estou na Bahia, essa camada, esse basalto, eu já vi antes”.
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Lá na China o senhor dizia isso?
— Na China, na Mandchuria. Há muitos fósseis ali e ainda vai aparecer muita coisa interessante, isso sem mencionar o que existe na Mongólia interior, nos desertos que eles têm no oeste do país. Em 1996, da vez anterior em que eu estive lá, o pessoal do instituto de paleontologia de vertebrados e paleoantropologia da Academia Chinesa de Ciências estava ganhando US$ 200 por mês. Havia pouca gente e muitas dificuldades. Mas, de lá para cá, eles cresceram muito na área. Mandaram muitos pesquisadores para a Europa, Estados Unidos, e aumentaram o intercâmbio com o exterior. Agora mesmo estão mandando dois pesquisadores para cá e nós acabamos de ir para lá. Acho que até duplicaram o salário dos pesquisadores. Para nós, o salário é baixo, mas lá eles têm casa e comida. E têm dinheiro para pesquisa. Todos eles estão com computador de último tipo na frente deles, com scanner, e boas máquinas digitais. Todos estão trabalhando, e muito, publicando no exterior. As revistas estão babando, correndo atrás deles.
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Nós não poderíamos imitar os chineses?
— Eu não sei qual é o fascínio que a China tem. Nunca um editor da Nature ou da Science veio para cá pedir para a gente fazer artigo para eles. Isso eu vi lá na China. Até assisti a uma palestra de um editor, cuja base é nas Filipinas, em que ele dizia o seguinte: “Vocês preparem os artigos que nós temos interesse em publicar”. Para mim, a China – e essa é uma opinião puramente minha, de leigo – já deu um passo na frente da gente em ciência. Vai ser difícil alcançá-los. A gente pensava em surgir como parceiro da China, mas vai ser difícil. Eles já estão um pouco na frente. A massa crítica envolvida em pesquisa lá é enorme.
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Qual o impacto do contrabando na paleontologia nacional?
— O problema é real, em especial no Araripe, e temos de enfrentá-lo. A legislação brasileira não permite a comercialização de fósseis. Para fazer uma escavação, se você não pertence a uma instituição de pesquisa, é preciso uma autorização do DNPM. Eu, de certa forma, influencio a política interna do órgão. E a política nossa é a seguinte: não damos a autorização para ninguém que tenha fins comerciais.
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Quem sustenta o contrabando de fósseis, os colecionadores ou os museus de universidades do exterior?
— São as coleções de particulares. Hoje está na moda comprar os fósseis de insetos. Os museus sérios não compram, respeitam os acordos com o Brasil. Mas essa nem sempre é a posição dos Estados Unidos e da Inglaterra. O que me consola um pouco é que, mais cedo ou mais tarde, o material contrabandeado, se for realmente importante, vai ser descrito por um pesquisador. Lamento muito que isso acabe ocorrendo lá fora. Mas uma coisa ficou clara para mim nesses anos todos: quando há competência brasileira na área da paleontologia, dificilmente se perde um fóssil importante para o exterior. Veja o caso do Alex Kellner com os pterossauros: ele é muito ativo, corre atrás, dificilmente alguém vai fazer qualquer coisa lá fora com material daqui do Araripe. Os chineses sofrem com o mesmo tipo de problema. Mesmo lá, com todo o regime chinês, eles não conseguem controlar a saída de material.
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Mas o Kellner e o senhor mesmo tiveram problema, há alguns anos, com um pesquisador inglês, David Martill, da Universidade de Portsmouth, que publicou um artigo sobre um fóssil de dinossauro do Araripe contrabandeado que era igual ou semelhante a um que vocês estavam estudando. Na época houve a suspeita de que o fóssil do inglês era um pedaço da peça estudada por vocês.
— A mesma peça não era. Era outra provavelmente contrabandeada. O que se pode fazer nesses casos? Temos de educar as populações locais para fazer concorrência ao contrabando. Temos de usar a Universidade Regional do Cariri como um pólo de atração; fizemos diferentes audiências públicas com a procuradoria de meio ambiente, para conscientizar autoridades e população. E também promover ações da Polícia Federal. Mas essas ações, para mim, são as que resolvem menos. Termina chamando mais a atenção sobre o assunto do que resolvendo o problema.
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Mas a prisão de algumas pessoas por contrabando não mostra que a lei está sendo cumprida?
— Claro, prisões como a do contrabandista alemão Michel Schuwickert no Ceará em 2002 são ações importantes. Mas prender o lavrador do campo porque ganha algum dinheiro com o comércio de fósseis não tem sentido. Na época de seca, muitas vezes, o fóssil é uma garantia de ter um quilo de feijão ou de arroz na mesa do lavrador.
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Qual é a sua posição pessoal sobre essa questão da venda de fósseis?
— Nunca comprei nada. Nem estimulo ninguém a comprar. Mas acho que o lavrador poderia ser alvo de uma troca, de um trabalho de convencimento por parte das universidades. Sempre procurei trabalhar a educação dessas pessoas. Elas poderiam receber livros, palestras. Também é preciso fazer museus nos locais onde ocorrem os fósseis. Assim, o morador pode ter ali, exposta, a peça coletada por ele, com o nome dele. Isso conta muito nas comunidades. Enfim, há uma série de coisas que podem ser feitas. Simplesmente prender o lavrador não resolve. Se não se fizer isso, o cara esconde os fósseis da gente e, depois, troca, vende, faz qualquer negócio com o primeiro paulista que aparecer.
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Só os paulistas compram os fósseis?
— Não precisa ser paulista. No Nordeste, na Amazônia, qualquer pessoa que venha do Sul é, para eles, “paulista”. E, se tiver com dinheiro, é mais paulista ainda. Se tiver nome italiano então, é paulista mesmo. O contrabando é um assunto extremamente desagradável para mim. Mas, hoje, há no máximo um ou dois exemplares de fósseis de interesse para a ciência fora de museus, ainda que no exterior. Depois de algum tempo, o colecionador particular acaba passando a peça para o museu. Alguns pesquisadores da Alemanha e Japão estão tentando fazer um acordo com a gente para que pesquisadores brasileiros estudem junto fósseis que foram contrabandeados para lá.
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Mas, em 1998, um pesquisador japonês publicou na Nature artigo sobre um fóssil de tartaruga marinha de 110 milhões de anos, que seria a mais antiga do planeta. Era um exemplar do Araripe. Era contrabando?
— Sem dúvida. Quando o pesquisador não fala como conseguiu o fóssil, é porque ele não tem como dizer que comprou de uma forma ilegal. Existem quatro tartarugas do Araripe descritas, três delas envolvem pesquisadores brasileiros. Só essa que não. Eu conversei com o japonês tempos depois e ele não sabia de nada.
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Como o senhor reage diante de um artigo escrito por estrangeiros a partir de um fóssil brasileiro contrabandeado?
— É a coisa mais frustrante que existe. Apesar dos esforços, a gente não consegue cobrir tudo. Esse alemão (do contrabando), por exemplo, eu queria metê-lo na cadeia e jogar a chave fora. Ele argumenta que nunca pegou num fóssil. “As pessoas coletam uma peça para mim, me dão de presente e eu aceito”, ele costuma dizer.
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Para os fósseis saírem do Brasil não é preciso um esquema que corrompa um certo de número de pessoas?
— Se as peças justificam o investimento de um estrangeiro se deslocar para cá, eles fazem de tudo. Dão gorjetas, propinas, pagam pelo trabalho de um lavrador para procurar fósseis. E dão mais propina pelos exemplares encontrados. Essas atividades se passam até nos aeroportos, embora haja ação permanente da Polícia Federal.
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Quanto pode valer lá fora um fóssil de uma espécie rara ou nova para a ciência?
— Falam em milhares dólares, dependendo da peça. Mas isso é uma exceção. Há muita venda de lotes de fósseis para ornamentação, de grandes quantidades de bichos e insetos. Como não custou quase nada obter os fósseis, qualquer valor para essas peças ornamentais é lucro. Esse comércio, embora envolva peças sem novidades é muito prejudicial para a ciência, principalmente na área dos insetos, em que há muita coisa interessante no Araripe. Não gosto de dar valor monetário para os fósseis porque qualquer valor que eu dê passa a servir de referência. Nos lugares em que escavo no Araripe não sobra resto algum de fósseis no dia seguinte. O que tinha sobrado, mesmo sem importância, alguém pega. Eles acham que, se Dr. Diógenes coletou fóssil ali, então o lugar é bom.
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O Araripe é realmente importante para a paleontologia mundial?
— Ali é tudo da fase final do Cretáceo inferior. Além de ter uma grande fauna de vertebrados, o Araripe tem uma flora muito importante, provavelmente com as primeiras plantas com flores do planeta. A Mary Elizabeth Bernardes de Oliveira, da Universidade de São Paulo, está estudando essa questão. Ali houve as primeiras florestas com flores, que vão mais tarde abrigar os mamíferos e as aves. É essa floresta que vai moldar toda a vida humana na Terra durante os últimos 65 milhões de anos e que vai permitir o aparecimento dos primatas e, conseqüentemente, do homem. São as plantas que preparam o ambiente para depois surgirem os animais que vão estar adaptados a ele.
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Em dezembro, o ministro da Ciência e Tecnologia lançou em Uberaba o projeto de uma rede nacional de pesquisas em paleontologia, com orçamento previsto de cerca de R$ 6 milhões. Mas parece que poucos paleontólogos nacionais tinham conhecimento da iniciativa. É verdade que o senhor está à frente da rede?
— Estou numa situação pouco confortável. Foi feito um grande projeto em cima de um projeto meu, que tinha um determinado objetivo e era bem menor. De repente, me jogaram R$ 6 milhões em cima da mesa. No meu projeto original, queria fazer uma brinquedoteca, uma biblioteca, uma oficina dos dinossauros, um espaço lúdico, ao lado do museu de paleontologia que já existe em Peirópolis, no município de Uberaba. Mas lideranças políticas devem ter achado que era pouco e o meu projeto voltou ampliado, com uma rede por cima. Vamos ter de fazer correções nisso. Todos os pesquisadores vão ser ouvidos. Eu já disse isso para eles. O pessoal do Rio Grande do Sul, que foi excluído da rede, vai ser incluído novamente. Se não for assim, caio fora.
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Saiu num jornal de São Paulo que um deputado havia conseguido o dinheiro para a rede, para Minas?
— É verdade. Foi o deputado Nárcio Rodrigues, do PSDB de Minas Gerais. Mas quero que seja constituído um conselho científico para a rede e esse conselho vai decidir quem vai receber dinheiro para pesquisa. Ninguém vai dar dinheiro para ninguém sem haver julgamento entre os pares, sem ter projeto científico. Não abro mão disso.
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Mas quem coordena a rede?
— Quem está coordenando a parte financeira da rede é a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais. E eles me pediram para coordenar a parte científica da rede. Vou dar continuidade ao trabalho iniciado em 1986, de parceria do DNPM e a Prefeitura Municipal de Uberaba. Vou trabalhar com Beethoven Teixeira para que venhamos a ter em Peirópolis um centro de referência para dinossauros, em particular, e para fósseis brasileiros, no geral. Em Minas não há a massa crítica de paleontólogos para tocar a rede. Gente de outros estados têm de entrar na rede.
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Megafauna Mamífera em Baixa Grande, Bahia
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No Município de Baixa Grande, Bahia, também foram localizadas referências da Megafauna Mamífera, por Ricardo da Costa Ribeiro, Ismar de Souza Carvalho e Rosembergh da Silva Alves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em trabalho apresentado no Congresso Brasileiro de Paleontologia, estes estudiosos teceram considerações sobre esses seres que habitaram a região onde, atualmente, se encontra o Município de Baixa Grande.
Os seres identificados foram Eremotherium laurillardi, Panochthus greslebini, Toxodon e Stegomastodon waringi.
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O resumo do trabalho:
RIBEIRO, Ricardo da Costa; CARVALHO, Ismar de Souza; ALVES, Rosembergh da Silva. “A megafauna do Quaternário Tardio do município de Baixa Grande, Bahia: Importância paleoambiental.” Belém (Pará): Sociedade Brasileira de Paleontologia, Anais, p.213, 13 a 18 de setembro de 2009.
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Resumo:
"Os elementos da Megafauna do Quaternário tardio no Nordeste do Brasil são normalmente encontrados em tanques e grutas, com alguns registros em paleolagoas e tufos calcários.
Os fósseis descobertos no município de Baixa Grande, Estado da Bahia, encontravam-se
em um tanque, na localidade Lagoa do Rumo. Os táxons identificados compreendem os
Pilosa (Megatheriidae – Eremotherium laurillardi), Cingulata (Glyptodontidae - Panochthus greslebini), Notoungulata (Toxodontidae - Toxodon), e Proboscidea (Gomphoteriidae - Stegomastodon waringi). De E. laurillardi foram coletados fragmentos de dentes; um ramo mandibular inferior direito; um fragmento de porção distal de úmero; um rádio; um fragmento de porção proximal de fêmur; uma tíbia; um calcâneo fragmentado; dois astrágalos esquerdos, um destes fragmentado; um astrágalo direito; um metacarpo IV; uma falange distal fragmentada do terceiro dedo. De P. greslebini foi coletado um fragmento de carapaça. De Toxodon, fragmentos de dentes molariformes. De S. waringi, um fragmento de cúspide de dente molariforme. Os fósseis se encontravam em uma camada caracterizada como uma brecha fossilífera, densamente empacotada. Os constituintes desta brecha estavam dispostos caoticamente em relação ao acamamento, distribuídos em várias classes de tamanho. Grande parte dos fósseis estava fragmentada, apresentando-se, como os clastos, em formas angulosas. As características do depósito e da camada fossilífera apontam para uma deposição em eventos de regime de fluxo de detritos. As carcaças e restos de ossos de elementos da megafauna Quaternária seriam correspondentes à animais que teriam morrido no entorno do tanque. Estes restos foram então carreados para o interior do tanque em um curto transporte, evidenciado pelo aporte de sedimentos clásticos associados aos fósseis, além da presença de elementos cranianos de três dos quatro táxons representados. A fauna descoberta em Baixa Grande, do ponto de vista paleoambiental, sugere um habitat do tipo savana/borda de floresta, com grande disponibilidade de alimentos para estes megaherbívoros, além de corpos d’água, a fim de atender as características semi-aquáticas atribuídas aos toxodontes, o que implica em um clima mais úmido do que o atual em certos momentos do Quaternário tardio para a região de Baixa Grande."
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No Município de Baixa Grande, Bahia, também foram localizadas referências da Megafauna Mamífera, por Ricardo da Costa Ribeiro, Ismar de Souza Carvalho e Rosembergh da Silva Alves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em trabalho apresentado no Congresso Brasileiro de Paleontologia, estes estudiosos teceram considerações sobre esses seres que habitaram a região onde, atualmente, se encontra o Município de Baixa Grande.
Os seres identificados foram Eremotherium laurillardi, Panochthus greslebini, Toxodon e Stegomastodon waringi.
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O resumo do trabalho:
RIBEIRO, Ricardo da Costa; CARVALHO, Ismar de Souza; ALVES, Rosembergh da Silva. “A megafauna do Quaternário Tardio do município de Baixa Grande, Bahia: Importância paleoambiental.” Belém (Pará): Sociedade Brasileira de Paleontologia, Anais, p.213, 13 a 18 de setembro de 2009.
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Resumo:
"Os elementos da Megafauna do Quaternário tardio no Nordeste do Brasil são normalmente encontrados em tanques e grutas, com alguns registros em paleolagoas e tufos calcários.
Os fósseis descobertos no município de Baixa Grande, Estado da Bahia, encontravam-se
em um tanque, na localidade Lagoa do Rumo. Os táxons identificados compreendem os
Pilosa (Megatheriidae – Eremotherium laurillardi), Cingulata (Glyptodontidae - Panochthus greslebini), Notoungulata (Toxodontidae - Toxodon), e Proboscidea (Gomphoteriidae - Stegomastodon waringi). De E. laurillardi foram coletados fragmentos de dentes; um ramo mandibular inferior direito; um fragmento de porção distal de úmero; um rádio; um fragmento de porção proximal de fêmur; uma tíbia; um calcâneo fragmentado; dois astrágalos esquerdos, um destes fragmentado; um astrágalo direito; um metacarpo IV; uma falange distal fragmentada do terceiro dedo. De P. greslebini foi coletado um fragmento de carapaça. De Toxodon, fragmentos de dentes molariformes. De S. waringi, um fragmento de cúspide de dente molariforme. Os fósseis se encontravam em uma camada caracterizada como uma brecha fossilífera, densamente empacotada. Os constituintes desta brecha estavam dispostos caoticamente em relação ao acamamento, distribuídos em várias classes de tamanho. Grande parte dos fósseis estava fragmentada, apresentando-se, como os clastos, em formas angulosas. As características do depósito e da camada fossilífera apontam para uma deposição em eventos de regime de fluxo de detritos. As carcaças e restos de ossos de elementos da megafauna Quaternária seriam correspondentes à animais que teriam morrido no entorno do tanque. Estes restos foram então carreados para o interior do tanque em um curto transporte, evidenciado pelo aporte de sedimentos clásticos associados aos fósseis, além da presença de elementos cranianos de três dos quatro táxons representados. A fauna descoberta em Baixa Grande, do ponto de vista paleoambiental, sugere um habitat do tipo savana/borda de floresta, com grande disponibilidade de alimentos para estes megaherbívoros, além de corpos d’água, a fim de atender as características semi-aquáticas atribuídas aos toxodontes, o que implica em um clima mais úmido do que o atual em certos momentos do Quaternário tardio para a região de Baixa Grande."
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domingo, 6 de dezembro de 2009
A Mineração do Níquel, em Itagibá.
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Foto Fonte: A Tarde
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A Bahia passou a contar com a maior mina de Níquel da América Latina, e o segundo maior produtor brasileiro, com capacidade para se tornar o maior produtor. Foi inaugurada a 04 de dezembro de 2009, no Município de Itagibá, a 377 km de Salvador, pelo Governador do Estado da Bahia, Jaques Wagner.
Itagibá.
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A implantação e ativação da jazida pelo grupo Mirabela Mineração do Brasil gerou já mais de 3 mil empregos, somando-se, agora, com o funcionamento, mais 250 empregos.
Serão produzidas cerca de 4,6 milhões de toneladas de minério por ano, representando cerca de 150 mil toneladas de concentrado/ano, com teor de 13% de Níquel. (*1) O investimento até o início da produção foram R$ 900 milhões, o que permitirá um aumento de 30% na produção brasileira de níquel. (*2)
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Diretor-Geral do DNPM - Miguel Nery e o Governador da Bahia Jaques Wagner. Fonte: DNPM
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O destino já acertado de metade dessa produção é a distante Finlândia, com saída pelo porto de Ilhéus. A outra metade será absorvida pela empresa brasileira Votorantin, em suas unidades de Minas e Ceará.
O impacto econômico imediato será direto nos Municípios de Itagiba, Ipiaú, Ubatã, Gongoji, Jitaúna, Barra do Rocha e Ibirataia. Somente na infraestrutura, em Itagibá, a Mirabela investiu mais US$ 30 milhões na instalação de escritório e área de armazenamento em Ipiaú. (*1)
O corpo de minério tem extensão de cerca de 2 quilômetros, a uma profundidade aproximada de 500 metros, (*1) (*2) com reservas de cerca de 74 milhões de toneladas (*3) A vida útil da mina estava prevista para 20 anos, trabalhando-se somente com a mineração a céu aberto, mas com a sinalização de ampliação do conhecimento e expansão da produção, em mineração subterrânea, a 40 anos. (*1)(*2)(*4)
O presidente do Grupo Mirabela Mineração, Brian Hidy, declara que “em duas semanas, já estávamos produzindo 250 mil toneladas”, almejando ultrapassar a capacidade atual instalada de 4,6 milhões de toneladas por ano, para chegar a 6,4 milhões. (*2)
Os direitos minerários da mina são detidos pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM, à qual caberão 2,51% de royalties sobre a receita do concentrado de níquel, valor equivalente a R$ 15 milhões por ano. Com isso, a empresa se tornará auto-suficiente em investimento a partir de 2011. (*1)(*2)(*3)
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A Mina
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O presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM, Hari Alexandre Brust destacou o potencial e o crescimento da Mineração no Estado da Bahia. “Nossa próxima grande mina deve ser a de vanádio, em Maracás”. (*2) (*3) Este clima favorável ao crescimento da Mineração baiana é confirmado pelo diretor-geral do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, Miguel Nery, que contou 19,5% dos requerimentos de pesquisa do País neste ano. (*2) (*3)
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Diretor-Geral do DNPM - Miguel Nery, Geólogo da Mirabela - Paulo Oliva, Presidente da CBPM - Alexandre Brust, Diretor Técnico da CBPM - Rafael Avena, Chefe do 7ºDS/DNPM/BA - Teobaldo Rodrigues. Fonte: DNPM
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A expectativa do Grupo Mirabela Mineração do Brasil é da geração de cerca de R$ 600 milhões em receitas na venda do seu produto final. Esta mineração deverá render aos cofres do Estado da Bahia cerca de R$ 60 milhões em receitas do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, além de R$ 5 milhões relacionados à Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais – CFEM. (*2)(*5)
O Níquel é utilizado na composição do aço e em medicamentos
Fontes:
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(*1) http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2009/12/01/Bahia_Nacional/Bahia_tem_maior_mina_de_niquel_da.shtml
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(*2)http://www.atarde.com.br/economia/noticia.jsf?id=1301969
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(*3) http://www.comunicacao.ba.gov.br/noticias/2009/12/04/maior-mina-de-niquel-da-america-latina-entra-em-operacao
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(*4) www.souzaandrade.com.br/blog08/?cat=25
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(*5) http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=99&IDPagina=72&IDNoticiaNoticia=422
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Foto Fonte: A Tarde
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A Bahia passou a contar com a maior mina de Níquel da América Latina, e o segundo maior produtor brasileiro, com capacidade para se tornar o maior produtor. Foi inaugurada a 04 de dezembro de 2009, no Município de Itagibá, a 377 km de Salvador, pelo Governador do Estado da Bahia, Jaques Wagner.
Itagibá.
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A implantação e ativação da jazida pelo grupo Mirabela Mineração do Brasil gerou já mais de 3 mil empregos, somando-se, agora, com o funcionamento, mais 250 empregos.
Serão produzidas cerca de 4,6 milhões de toneladas de minério por ano, representando cerca de 150 mil toneladas de concentrado/ano, com teor de 13% de Níquel. (*1) O investimento até o início da produção foram R$ 900 milhões, o que permitirá um aumento de 30% na produção brasileira de níquel. (*2)
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Diretor-Geral do DNPM - Miguel Nery e o Governador da Bahia Jaques Wagner. Fonte: DNPM
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O destino já acertado de metade dessa produção é a distante Finlândia, com saída pelo porto de Ilhéus. A outra metade será absorvida pela empresa brasileira Votorantin, em suas unidades de Minas e Ceará.
O impacto econômico imediato será direto nos Municípios de Itagiba, Ipiaú, Ubatã, Gongoji, Jitaúna, Barra do Rocha e Ibirataia. Somente na infraestrutura, em Itagibá, a Mirabela investiu mais US$ 30 milhões na instalação de escritório e área de armazenamento em Ipiaú. (*1)
O corpo de minério tem extensão de cerca de 2 quilômetros, a uma profundidade aproximada de 500 metros, (*1) (*2) com reservas de cerca de 74 milhões de toneladas (*3) A vida útil da mina estava prevista para 20 anos, trabalhando-se somente com a mineração a céu aberto, mas com a sinalização de ampliação do conhecimento e expansão da produção, em mineração subterrânea, a 40 anos. (*1)(*2)(*4)
O presidente do Grupo Mirabela Mineração, Brian Hidy, declara que “em duas semanas, já estávamos produzindo 250 mil toneladas”, almejando ultrapassar a capacidade atual instalada de 4,6 milhões de toneladas por ano, para chegar a 6,4 milhões. (*2)
Os direitos minerários da mina são detidos pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM, à qual caberão 2,51% de royalties sobre a receita do concentrado de níquel, valor equivalente a R$ 15 milhões por ano. Com isso, a empresa se tornará auto-suficiente em investimento a partir de 2011. (*1)(*2)(*3)
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A Mina
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O presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM, Hari Alexandre Brust destacou o potencial e o crescimento da Mineração no Estado da Bahia. “Nossa próxima grande mina deve ser a de vanádio, em Maracás”. (*2) (*3) Este clima favorável ao crescimento da Mineração baiana é confirmado pelo diretor-geral do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, Miguel Nery, que contou 19,5% dos requerimentos de pesquisa do País neste ano. (*2) (*3)
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Diretor-Geral do DNPM - Miguel Nery, Geólogo da Mirabela - Paulo Oliva, Presidente da CBPM - Alexandre Brust, Diretor Técnico da CBPM - Rafael Avena, Chefe do 7ºDS/DNPM/BA - Teobaldo Rodrigues. Fonte: DNPM
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A expectativa do Grupo Mirabela Mineração do Brasil é da geração de cerca de R$ 600 milhões em receitas na venda do seu produto final. Esta mineração deverá render aos cofres do Estado da Bahia cerca de R$ 60 milhões em receitas do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, além de R$ 5 milhões relacionados à Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais – CFEM. (*2)(*5)
O Níquel é utilizado na composição do aço e em medicamentos
Fontes:
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(*1) http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2009/12/01/Bahia_Nacional/Bahia_tem_maior_mina_de_niquel_da.shtml
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(*2)http://www.atarde.com.br/economia/noticia.jsf?id=1301969
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(*3) http://www.comunicacao.ba.gov.br/noticias/2009/12/04/maior-mina-de-niquel-da-america-latina-entra-em-operacao
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(*4) www.souzaandrade.com.br/blog08/?cat=25
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(*5) http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=99&IDPagina=72&IDNoticiaNoticia=422
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Smilodon... Mordida não tão forte, porém altamente eficiente.
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O Smilodon, popularmente conhecido como “Tigre-de-dentes-de-Sabre”, foi um dos mais aterrorizantes predadores mamíferos que existiram em nossos terrenos.
Esses predadores sempre foram lembrados como grandes colossos destruidores, entretanto, um trabalho recente deixou muito claro um ponto, que é a falta de força da sua mordida. Reconstituições e modelamentos, com comparações permitiram entender que a força da mordida de um Smilodon foi cerca de 1/3 da força da mordida de um Leão (Panthera leo).
Um leão costuma utilizar sua mordida de maneira que exige aplicação de força mais intensa, geralmente visando estrangular a vitima. Seus dentes caninos chegam a, no máximo, 07 centímetros de comprimento. Já um Smilodon tinha dentes caninos de até entre 18 e 25 centímetros não se fiava tanto em força de mordida, mas em precisão de penetração.
Testes computadorizados indicam que uma mordida do Smilodon seria um problema ao ser aplicado em uma vítima em movimento, provavelmente resultando na quebra dos seus longos dentes. Sua estruturação física também não era a de um corredor. Portanto, o que se espera ter sido o comportamento de um Smilodon, em sua predação, é ter sido um caçador que se postava em tocaias, arrematando a curta distância. Após isto, dedicava-se a derrubar a presa enquanto buscava um ponto frágil, como pescoço ou ventre, no qual cravava suas presas.
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A eficácia do Smilodon nesse comportamento é evidenciada pela raridade de se encontrarem exemplares com dentes quebrados em vida.
O entendido é que o Smilodon não era ágil e adeqüado a presas pequenas, como veados, mas sim apropriados aos grandes mamíferos. Precisamente isto teria sido o que levou o Smilodon à extinção. O rareamento e extinção das suas grandes presas, como as grandes preguiças terrícolas, fez com que o seu maior predador fosse levado a um paralelos rareamento e extinção.
Um exemplar do Smilodon populator, em Lagoa Santa, Minas Gerais, foi datado em 9.260 +- 150 anos atrás, por Luís Piló e Walter Neves, em 2003.
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O artigo que forneceu maiores subsídios a esta explicação é:
McHenry, Colin R.; Wroe, Stephen; Clausen, Philip D.; Moreno, Karen; Cunningham, Eleanor. "Super-modeled sabercat, predatory behaviour in Smilodon fatalis revealed by high-resolution 3-D computer simulation." (Estados Unidos da América do Norte): Procedings of National Academy of Sciences, v.104, n.41, p. 16.010 - 16.015, outubro de 2007.
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Imagens de destaque do artigo:
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Figura 1. Construção de modelos. (A) Modelo com o sistema de músculos de um Leão moderno (Panthera leo), mostrando, em azul, o músculo temporal, e em vermelho, músculo Masseter, com suas estruturas e áreas de ancoramento. (B) Modelo de Smilodon fatalis mostrando a assembléia equvalente à do leão de músculos do pescoço.
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Figura 3. Distribuição do estresse pela aplicação de força ao dentes caninos. (A) Lion com aplicação de força de 2.000-N de força lateral. (B) A mesma aplicação sobre um Smilodon fatalis. (C) Aplicação a Smilodon fatalis de força com 100-Nm de moment axial. (D) Aplicação a Smilodon fatalis de força de 2.000-N anterior.
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Figura 4. Estresse Von Mises com aplicações de intrínsecas. (A) Predição de tensões em leão (Panthera leo) com mordida com força de 3.388 N e Smilodon fatalis de 1.104 N (à direita). (B and C) Mordida de Smilodon fatalis calculadas como se ele tivesse massa corporal de 229 kg (2,110 N), atuando somente os músculos adutores da mandíbula (B) e a associação entre músculos do pescoço e da mandíbula(C).
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